Tratados da terra e gente do Brasil

podem fazer é dizer-lhes que se calem, ou que basta com estes choros. Não havia quem se ouvisse nas aldeias quando chegávamos. Acabada a festa e recebimento alimpam as lágrimas com as mãos e cabelos, ficando tão alegres e serenas como que se nunca choraram, e depois se saúdam com o seu Ereiupe e comem (XLVII), etc.

Para os mortos têm outro choro e tom particular, os quais choram dias e noites inteiras com abundância de lágrimas, mas tornando à festa dos hóspedes, quando chegávamos, ou se fazia alguma festa, se punham a chorar, dizendo em trova muitas lástimas, de como seus parentes e antepassados não ouviram os padres nem sua doutrina.

Os pais não têm cousa que mais amem que os filhos, e quem a seus filhos faz algum bem tem dos pais quanto quer. As mães os trazem em uns pedaços de redes, a que chamam tipoia (XLVIII). De ordinário os trazem às costas ou na ilharga escanchados, e com eles andam por onde quer que vão, com eles às costas trabalham, por calmas, chuvas e frio. Nenhum gênero de castigo têm para os filhos; nem há pai nem mãe que em toda a vida castigue nem toque em filho, tanto os trazem nos olhos. Em pequenos são obedientíssimos a seus pais e mães, e todos muito amáveis e aprazíveis: têm muitos jogos a seu modo, que fazem com muito mais festa e alegria que os meninos portugueses. Nestes jogos arremedam vários pássaros, cobras, e outros animais, etc., os jogos são mui graciosos, e desenfadadiços, nem há entre eles desavença, nem queixumes, pelejas, nem se ouvem pulhas, ou nomes ruins e desonestos. Todos trazem seus arcos e flechas, e não lhes escapa passarinho, nem peixe n'água, que não flechem, pescam

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