Tratados da terra e gente do Brasil

bem a linhas, e são pacientíssimos em esperar, donde vem em homens a ser grandes pescadores e caçadores, nem há mato nem rio que não saibam e revolvam, e por serem grandes nadadores não temem água nem ondas nem mares. Há índio que com uma braga ou grilhões nos pés nada duas e três léguas. Andando caminho, suados, se botam aos rios; os homens, mulheres e meninos, em se levantando se vão lavar e nadar aos rios, por mais frio que faça; as mulheres nadam e remam como homens, e quando parem algumas se vão lavar aos rios.

Tornando à viagem, partimos da aldeia do Espírito Santo para a de Santo Antonio, passamos alguns rios caudais em jangadas, fomos jantar em uma fazenda do colégio, onde um irmão além de outras muitas cousas tinha muito leite, requeijões e natas que faziam esquecer Alentejo. Comemos debaixo de um acajueiro muito fresco, carregado de acajus, que são como peros repinaldos ou camoeses, são uns amarelos, outros vermelhos, têm muna castanha no olho, que nasce primeiro que o pero, da qual procede o poro; é fruta gostosa, boa para tempo de calma, e toda se desfaz em sumo, o qual põe nódoas em roupa de linho ou algodão que nunca se tira. Das castanhas se fazem maçapães, e outras cousas doces, como de amêndoas; as castanhas são melhores que as de Portugal; a árvore é fresca, parece-se com os castanheiros, perde a folha de todo, cousa rara no Brasil, porque todo o ano as árvores estão tão verdes e frescas como as de Portugal na primavera.

Aquela noite fomos ter à casa de um homem rico que esperava o padre visitador (XLIX): é nesta Bahia o segundo em riquezas por ter sete ou oito léguas de terra por costa, em a qual se acha o melhor âmbar que

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