Tratados da terra e gente do Brasil

nas igrejas dos padres, mas em chegando ao mar nada se lhes cumpre.

Três festas celebram estes índios com grande alegria, aplauso e gosto particular. A primeira são as fogueiras de São João, porque suas aldeias ardem em fogos, e para saltarem as fogueiras não os estorva a roupa, ainda que algumas vezes chamusquem o couro. A segunda é a festa de ramos, porque é cousa para ver, as palmas, flores e boninas que buscam, a festa com que os têm nas mãos ao ofício, e procuram que lhes caia água benta nos ramos. A terceira que mais que todas festejam, é dia de cinza, porque de ordinário nenhum falta, e do cabo do mundo vem a cinza, e folgam que lhes ponham grande cruz na testa, e se acontece o padre não ir às aldeias, por não ficarem sem cinza elea a dão uns aos outros, como aconteceu a uma velha que, faltando o padre, convocou toda a aldeia à igreja e lhes deu a cinza, dizendo que assim faziam os Abarés, sc. padres, e que não haviam de ficar em tal solenidade sem cinza.

Visitadas as aldeias, determinou o padre ver algumas fazendas e engenhos dos portugueses, visitando os senhores delas, por alguns lhe terem pedido, e outros porque os não tinha ainda visto, e era necessário conciliar os animas de alguns com a Companhia, por não estarem muito benévolos. Partimos de São João para o mar: era para ver neste caminho a multidão, variedade e formosura das flores das árvores, umas amarelas, outras vermelhas, outras roxas, com outras muitas várias cores misturadas, que era cousa para louvar o Criador. Vi neste caminho uma árvore carregada de ninhos de passarinho (LI), pendentes de seus fios de comprimento de uma vara de medir ou mais, que ficavam todos no ar

Tratados da terra e  gente do Brasil - Página 285 - Thumb Visualização
Formato
Texto