Tratados da terra e gente do Brasil

são os principais e mais virtuosos; têm sua mesa na igreja com seu pano, e eles trazem suas opas de baeta ou outro pátino vermelho, branco e azul; servem de visitar os enfermos, ajudar a enterrar os mortos, e às missas, levando a seus tempos os círios acesos, o que fazem com modesta devoção e muito a ponto; dão esmolas para as confrarias, as quais têm bem providas de cera, e os altares ornados com frontais de várias sedas; em suas festas enramam as igrejas com muita diligência e fervor, e certo que consola ver esta nova cristandade.

Todos os das aldeias, grandes e pequenos, ouvem missa muito cedo cada dia antes de irem a seus serviços, e antes ou depois da missa lhes ensinam as orações em purtuguês e na língua, e à tarde são instruídos no diálogo da fé, confissão e comunhão. Alguns, assim homens como mulheres, mais ladinos, rezam o rosário de Nossa Senhora; confessam-se a miúdo; honram-se muito de chegarem a comungar, e por isso fazem extremos, até deixar seus vinhos a que são muito dados, e é a obra mais heroica que podem fazer; quando os incitam a fazer algum pecado de vingança ou desonestidade, eles respondem que são de comunhão, que não hão de fazer a tal cousa. Enxergam-se entre eles os que comungam no exemplo da boa vida, modéstia e continuação das doutrinas; têm extraordinário amor, crédito e respeito aos padres, e nada fazem sem seu conselho, e assim pedem licença para qualquer cousa por pequena que seja, como se fossem noviços. E até aos do sertão daí 200, 300 e mais léguas, chega a fama dos padres e igrejas, e se não fossem estorvos, todo o sertão se viria para as igrejas, porque os que trazem os portugueses todos vêm com promessa e título que os porão

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