Tratados da terra e gente do Brasil

os nossos padres vão a estas missões são mui bem recebidos de todos, bem providos do necessário, com grande amor e caridade.

Tornando à quaresma, em nossa casa tivemos um devoto e rico sepulcro. A paixão foi também devota que concorreu toda a terra; os ofícios divinos se fizeram em casa com devoção. Sexta-feira Santa (30 de março) ao desencerrar do Senhor, certos mancebos vieram à nossa igreja; traziam uma verônica de Cristo mui devota, com pano de linho pintado, dois deles a tinham e juntamente com outros dois se disciplinavam, tazendo seus trocados e mudanças. E com a dança se fazia ao som de cruéis açoutes, mostrando a verônica ensanguentada, não havia quem tivesse as lágrimas com tal espetáculo, pelo que foi notável a devoção que houve na gente.

O padre visitador teve as endoenças na aldeia do Espírito Santo, aonde os índios tiveram um formoso e bem acabado sepulcro, de todas as colunas, cornijas, frontispícios de obra de papel, assentada sobre madeira, tão delicada e de tão maravilhosa feitura, que não havia mais que pedir, por haver ali um irmão insigne em cortar, e para sepulcros tem grande mão e graça particular. Tiveram mandato em português por haver muitos brancos que ali se acharam, e paixão na língua, que causou muita devoção e lágrimas nos índios. A procissão foi devotíssima com muitos fachos e fogos, disciplinando-se a maior parte dos índios, que dão em si cruelmente, e têm isto não somente por virtude, mas também por valentia, tirarem sangue de si, e serem abaetê (LIV), sc. valentes. Levaram na procissão muitas bandeiras que um irmão, bom pintor, lhes fez para

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