Tratados da terra e gente do Brasil

aquele dia, em pano, de boas tintas, e devotas. Um principal velho levava um devoto crucifixo debaixo do pálio. O padre visitador lhes fez todos os ofícios que se oficiaram a vozes com seus bradados. Ao dia da Ressurreição (1º de abril) se fez uma procissão por ruas de arvoredos muito frescos, com muitos fogos, danças, e outras festas. Esquecia-me dizer que os lavatórios cheirosos e pós de murtinhos com que se curam estes índios, quando se disciplinam, são irem-se logo meter e lavar no mar ou rios, e com isto saram e não morrem.

Aos 3 de maio, dia da invenção da Cruz, houve jubileu plenário em nossa casa, missa de canto de órgão, oficiada pelos índios e outros cantores da Sé, com flautas e outros instrumentos músicos. Preguei-lhes da Cruz, por terem aqui uma relíquia do Santo Lenho em uma cruz de prata dourada, que foi de uma das freiras de Alemanha, a qual a imperatriz deu para este colégio, com licença do Sumo Pontífice. Comungaram passante de 300 pessoas, e tudo se fez com muita festa e devoção.

Tinha o padre visitador dado ordens para se fazer um relicário para todas as relíquias que estavam mal acomodadas. Estava já neste tempo acabado. É grande, tem 16 armários com suas portas de vidraças, e no meio um grande, para a imagem de Nossa Senhora de São Lucas; os armários são todos forrados dentro de cetim carmesim, as portas da banda de dentro são forradas de sedas de várias cores, sc. damasco, veludo. cetim, etc., a madeira é de pau-de-cheiro de jacarandá, e outras madeiras de preço, de várias cores, de tal obra que se avaliou somente das mãos, em cem cruzados. Fê-lo um irmão da casa, insigne oficial. Está

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