Tratados da terra e gente do Brasil

Além do grande fruto que se colheu das missões que o padre fez a várias partes aonde o padre Luiz da Grã e eu pregávamos algumas vezes, confessando muitos portugueses e mulheres fidalgas de dom, que não faltam nesta terra, dia havia em que comungavam algumas 30 pessoas, afora o grande fruto que um padre língua fazia com os índios e escravos de Guiné. Ordenou o padre que andassem quatro padres em missões uns quinze dias: fez-se grande fruto, batizaram-se muitos índios e escravos de Guiné, e muitos se casaram em lei de graça, e ouviram grande cópia de confissões, de que se seguiu grande edificação para toda a terra.

O ano de 83 houve tão grande seca e esterilidade nesta província (cousa rara e desacostumada, porque é terra de contínuas chuvas), que os engenhos d'água não moeram muito tempo. As fazendas de canaviais e mandioca muitas se secaram, por onde houve grande fome, principalmente no sertão de Pernambuco, pelo que desceram do sertão apertados pela fume, socorrendo-se aos brancos quatro ou cinco mil índios. Porém passado aquele trabalho da fome, os que puderam se tornaram ao sertão, exceto os que ficaram em casa dos brancos ou por sua, ou sem sua vontade. Também ficou um principal chamado Mitaguaya (LX), de grande nome entre os índios do sertão, por ser grande língua e falador. Este com intento e desejo de ser cristão entregou um seu filho ao padre Luiz da Grã, o qual em breve tempo soube falar português, ajudar à missa, e aprendeu a ler, escrever e contar. Tanto que o padre visitador chegou a Pernambuco logo o sobredito Mitaguaya visitou por vezes o padre, vestido de damasco com passamanes de ouro, e sua espada na cinta, pedindo-lhe com

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