O que, porém, nesses escritos verdadeiramente nos encanta é a nota de constante bom humor de que estão impregnados, a vivacidade da narrativa, a graça, o imprevisto das comparações. Vide-o quando refere o exemplo de caridade que a eirara dá aos homens, quando conta as habilidades inteligentes do macaco, quando acha que é boa penitência e mortificação sofrer por uma noite ou madrugada as picadas dolorosas dos maruins, ou quando diz que o rosto da preguiça parece de mulher maltoucada...
Varnhagen quis ver nele o homem feito para viajar. "Não é desses que estão sempre com saudades de um quintalinho, de um bom prato que já não prova. Deixando a terra em que vivera até ali, deixou nela todas as prevenções, e sabe apreciar a muita hospitalidade que dos indígenas e dos colonos do Brasil recebe." De fato, se estabelece confrontos é quase sempre para achar melhor o que é de cá. O clima do Brasil preconiza como muito mais temperado e saudável, sem grandes calmas, nem frios, e por isso vivem os homens muito, com poucos achaques e enfermidades, como em Portugal; nossos peixes não causam sarna nem outras doenças da Europa; nossas favas são mais sadias, nossos pinhões são maiores e mais leves, a castanha do caju é tão boa e melhor do que a de lá; os canários, rouxinóis e pintassilgos do reino, em sua música, não levam muita vantagem aos nossos pássaros formosíssimos; e o perrexil que se acha em nossas praias é melhor do que o português. Nas aldeias de índios cristãos encontrava-se tanta abundância de carnes, legumes, pescado e mariscos, que não fazia falta a ribeira de Lisboa; em certa fazenda do colégio da Bahia havia tanto leite, requeijões e natas,