próprias; o autor recorreu a informações escritas ou verbais dos confrades. A Narrativa, datada, quanto à primeira parte, de 16 de outubro de 1586, apresenta-se mais sólida, mais direta e mais classificada.
Fernão Cardim nada tem de extraordinário, mas recomenda-se à simpatia e ao estudo por mais de um aspecto.
Era temperamento vibrátil, em que as sensações batiam fortes, seguidas, dando às vezes um estilo por assim dizer ofegante. "O padre visitador, informa, foi sangrado três vezes, enxaropado e purgado, provido de todas as galinhas. alcaparras, perrexil, chicórias e alfaces verdes e cousas doces e outros mimos necessários, que parecia estarmos em o colégio de Coimbra." De Joseph de Anchieta, o provincial prestigioso e com fama de taumaturgo, escreve: "O padre vinha de trás, a pé, com as abas na cinta, descalço, bem cansado; é este padre um santo de grande exemplo e oração, cheio de toda a perfeição, desprezador de si e do mundo, uma coluna grande desta província e tem feito grande cristandade e conservado um grande exemplo; de ordinário anda a pé, nem há retirá-lo de andar sendo muito enfermo. Enfim sua vida é 'vere apostólica'."
Para ele a natureza existia, uma natureza vívida e palpitante. Seduziam-no as águas dos rios, a variedade das flores, a frescura dos bosques, o canto das aves. "Era para ver neste caminho a multidão, variedade das flores, das árvores, umas amarelas, outras vermelhas, outras roxas, com outras muitas várias cores misturadas, que era cousa para louvar o Criador. Vi neste caminho uma árvore carregada de ninhos de passarinhos, pendentes de seus fios do comprimento de uma vara de medir