Linguados e Salmonetes – Também se acham nesta costa salmonetes, mas são raros, e não tão estimados, nem de tão bom gosto como os da Europa; os linguados de cá são raros: têm propriedade que quando se hão de cozer, ou assar os açoutam, e quanto mais açoutes lhes dão tanto mais tesos ficam, e melhores para comer, e se os não açoutam não prestam e ficam moles.
DOS PEIXES PEÇONHENTOS (XV)
Assim como nesta terra do Brasil há muitas cobras, e bichos peçonhentos de que se dirá adiante, assim também há muitos peixes muito peçonhentos.
Peixe-sapo, pela língua guamayaçu – É peixe pequeno, de comprimento de um palmo, pintado, tem os olhos formosos; em o tirando d'água ronca muito e trinca muito os anzóis, e em o tirando d'água incha muito. Toda a peçonha têm na pele, e tirando-lha, come-se, porém comendo-se com a pele mata. Aconteceu que um moço comeu um e morreu quase subitamente; disse o pai: hei de comer o peixe que matou meu filho, — e comendo dele também morreu logo; é grande mezinha para os ratos, porque os que o comem logo morrem.
Há outro peixe-sapo da própria feição que o atrás; mas tem muitos e cruéis espinhos, como ouriço, ronca e incha tirando-o d'água; a pele também mata, máxime os espinhos, por serem muito venenosos; esfolado se come, e é bom para câmaras de sangue.
Há outro peixe-sapo que na língua se chama itaoca; tem três quinas no corpo que todo ele parece punhal;