Tratados da terra e gente do Brasil

oito léguas da Bahia se têm achado muitos; em o ano de 82 indo um índio pescar, foi perseguido de um, e acolhendo-se em sua jangada o contou ao senhor; o senhor para animar o índio quis ir ver o monstro, e estando descuidado com uma mão fora da canoa, pegou dele, e o levou sem mais aparecer, e no mesmo ano morreu outro índio de Francisco Lourenço Caeiro. Em Porto Seguro se veem alguns, e já têm morto alguns índios. O modo que têm em matar é: abraçam-se com a pessoa tão fortemente beijando-a, e apertando-a consigo que a deixam toda feita em pedaços, ficando inteira, e como a sentem morta dão alguns gemidos como de sentimento, e largando-a fogem; e se levam alguns comem-lhes somente os olhos, narizes, e pontas dos dedos, dos pés e mãos, e as genitálias, e assim os acham de ordinário pelas praias com estas cousas menos.

DOS MARISCOS (XVII)

Polvos – O mar destas partes é muito abundante de polvos: tem este marisco um capelo, e sempre cheio de tinta muito preta; e esta é sua defesa dos peixes maiores, porque quando vão para os apanhar, botam-lhes aquela tinta diante dos olhos, e faz-se a água muito preta, e então se acolhem. Tomam-se à flecha, e assobiam-lhe primeiro; também se tomam com fachos de fogo de noite. Para se comerem os açoitam primeiro, e quanto mais lhe derem mais então ficam mais moles e gostosos.

Azula – Este marisco é como um canudo de cana: é raro, come-se, e para o baço bebido em pó e em jejum é único remédio.

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