Euclides da Cunha a seus amigos

[junho] 1909.

Oliveira Lima.

................................................

O meu fim principal é dizer-lhe que terminei ontem à uma e meia da madrugada o primeiro volume de D. João VI, e que não resisti, absolutamente, à ansiedade de mandar-lhe o meu primeiro aplauso. O primeiro capítulo desagradou-me; todos os outros, porém, cativaram-me, surpreenderam-me, e alguns, sobretudo aqueles onde revivem apagados aspectos do velho Rio de Janeiro, revelaram-me inesperados tons de estilo descritivo com que eu, de todo em todo, não contava. Deve comprender que dou, nestes dizeres, uma impressão incompleta capaz de ser retificada mais tarde. Mesmo o primeiro capítulo, que a massa dos assuntos torna pouco atraente, talvez se mostre sob uma outra forma com a segunda leitura. Penso, por ora, o seguinte: se todo o livro progredir no crescente do primeiro volume, será, inegavelmente, um grande livro. Infelizmente o Félix Pacheco, julgando-me tolhido pelo célebre concurso, encomendou a José Veríssimo o juízo crítico que aparecerá no "Jornal". Digo "infelizmente", para mim; porque o senhor realmente tem tudo a lucrar com a substituição. Direi o meu juízo pelo "Estado de São Paulo". Por ora, os outros jornais permanecem mudos; e não maravilha tal silêncio. Estamos num período de estéreis e exclusivas preocupações políticas. Só se leem — verdadeiramente — os entrelinhados do Jornal, onde se desenha

Euclides da Cunha a seus amigos - Página 248 - Thumb Visualização
Formato
Texto