Euclides da Cunha a seus amigos

Vimo-lo em condições bem difíceis, tentando cumprir a todo transe um dever bem duro... Tínhamos sido surpreendidos na ilha deserta dos Búzios por um famoso temporal caído à boca da noite. O pequeno Alamiro, um rebocador, que lá nos levara e lá nos esperava, passara a noite de fogos acesos, pronto a fugir do seu abrigo estreito, onde a fúria do mar ameaçava a cada instante esmagá-lo nos tostões... Antes de clarear o dia, repetiam-se os apitos do rebocador, chamando-nos. Nós estávamos no alto de um morro, a 80 m acima do nível do mar; e não podíamos, no escuro da noite, que o temporal da chuva em torrentes fazia mais escura, descer a íngreme escarpa e atravessar o áspero tostão, que nos separavam do mar.

Aos primeiros clarões do feio dia que raiava, descemos. Conseguimos, encharcados da chuva e dos borrifos das ondas, chegar ao Alamiro. E, largando o seu perigoso abrigo, uma remançosa enseada que a fúria do oceano violara e pusera a perder, o pequeno Alamiro meteu valentemente a proa no mar largo e no temporal desfeito que esbravejava e rugia.

Euclides tinha a incumbência oficial de visitar a ilha da Vitória, mais ao largo, e que aparecia, no horizonte carrancudo, através da chuva que caía, como uma mancha cinzenta e lúgubre. Mandou aproar para a Vitória.

Logo ao sair da enseada, o pequeno vapor começou aos bolcos. Tínhamos de segurar-nos aos varões de ferro para não sermos atirados ao mar, varridos pelas ondas

Euclides da Cunha a seus amigos - Página 37 - Thumb Visualização
Formato
Texto