Euclides da Cunha a seus amigos

que entravam pela proa do Alamiro e iam sair-lhe, espumantes e mugindo, pela popa. A cada passo, o rebocador subia, vagarosamente — como por uma montanha acima —, por uma onda enorme que lhe viera ao encontro; e chegado ao cume, na rapidez da própria marcha e do movimento da vaga em contrário, precipitava-se, como uma flecha, com a proa quase em rumo vertical ao fundo do mar...

Euclides, pouco afeito ao oceano, pelo qual sente verdadeiro pavor, conservava-se pedido com os olhos fixos na mancha longínqua e meio apagada que designava no horizonte e na solidão do mar a ilha da Vitória.

O mestre do barco, um velho lobo do mar, que neste se criara como marinheiro da armada nacional, veio a custo, aos trambolhões, agarrando-se por onde podia, dizer a Euclides que a ida à Vitória era um perigo, contra as águas e contra o vento, com aquele mar e com aquele tempo.

"Ninguém sabe", dizia ele, "o que vem atrás do temporal... O que já está aqui é grande; Mas não se sabe se lá nos pegará mais bravo ainda...".

— "A ordem é ir a Vitória, é preciso que vamos!" respondeu Euclides, aterrado, com os lábios franzidos, os dentes cerrados.

O temporal continuava; e tocado dele, o mar cada vez mais colérico, cada vez se encapelava mais, sacudindo e rolando o Alamiro como a uma casca de noz, entrando e saindo por ele ferozmente, levantando-o sobre montanhas

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