Euclides da Cunha a seus amigos

e precipitando-o ao fundo de verdadeiros vales formados entre duas ondas...

E o Alamiro, obedecendo às ordens inflexíveis de Euclides, avançava para o largo mar, penetrava cada vez mais no temporal e no perigo...

Afinal a situação tornou-se grave. O mestre veio novamente procurar Euclides, e declarou-lhe isso mesmo. Havia risco, e risco iminente, em continuar aquela rota inflexível. Tornava-se urgente aproar para São Sebastião, dando costas ao mar e ao vento, e demandando a segurança dum porto abrigado... Se continuássemos era muito possível que numa daquelas descidas vertiginosas em que o vapor se precipitava entre duas ondas, não conseguisse ressurgir...

Só diante dessa declaração categórica Euclides cedeu. Deixou-se vencer. E, ainda assim!...

— "Se eu morresse", dizia-me ele, "tinha uma bela morte, a morte no cumprimento do dever. A sua é que seria estúpida; morrer num passeio...".

Creio que foi por essa razão, de ir ali, a passeio, quem escreve estas linhas, que não morremos. Se o que escreve estas linhas também fosse cumprir deveres, adeus nossas encomendas! Tínhamos morrido honradamente, e belissimamente.

Qual será a doença de Euclides, de que dão notícia os telegramas, e que não impediu de seguir para as longínquas, as fundas regiões do Alto Purus?

Euclides da Cunha a seus amigos - Página 39 - Thumb Visualização
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