Euclides da Cunha a seus amigos

onde devia dormir, fechava-se às dez horas, e ofereci-lhe um quarto para passar a noite na minha casinha ao pé da do Barão.

Conversamos até às duas horas, e não fomos além porque tínhamos de levantar-nos às seis da manhã. Conversamos de literatura, está claro. Euclides sabia tudo. Sabia o que eu sabia em letras e mais toda a sociologia e a economia e a política de um pensador enciclopédico. Era a realização do verdadeiro homem de letras reforçado por um sábio, que Fichte preconizara. Mas sua erudição científica não pesava, não era pedantesca: os fatos positivos eram para ele apenas como o lastro de segurança da sua imaginação ambiciosa, estuante. Foi bom que seu espírito tivesse recebido da cultura matemática a disciplina da prova. Ouvindo-o, tinha a gente a confiança de que ele não arriscaria asserções improváveis e a conversa ganhava com a impressão que dava sua perfeita honestidade mental. Honestidade e respeito são traços gentis do caráter de um pensador com expressão. Às suas qualidades tão humanas e que nunca serão cultivadas demais no trato entre os homens, Euclides juntava o poder de admirar. Admirava concientemente, criticamente, inteligentemente, e era o seu prazer máximo acompanhar na análise das páginas que duram a experiência, interessante sobre todas, dessa química das ideias em presença dos fatos, que entra na criação das obras-primas. Era então que era simpático, dessa simpatia juvenil, natural e simples, que atrai afetuosamente

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