Euclides da Cunha a seus amigos

assentada pela sua capacidade de notável profissional, o autor dos Sertões escreveu o terceiro e mais empolgante capítulo de sua gloriosa vida de cientista e patriota. A campanha do Purus na grande tragédia silenciosa de cada dia, marcada pelo declinar das águas, que deixavam à mostra as cachoeiras eriçadas de rochedos e tocos traiçoeiros, assemelha-se muito ao cerco de Canudos, quando faltava alimentação e a tropa se sentia combalida pela fome e pelo arremesso indômito dos jagunços. Não recuou, porém, não afrouxou o garrão, no grito bravio do chefe militar.

Já na última investida, quando chegava ao varadouro, que define a mais meridional das nascentes do Purus, foi a expedição já esgotada em suas últimas reservas de energia, assaltada pela falta absoluta de víveres; o que obrigaria a deixar inexplorado o último rincão escondido à curiosidade patriótica do grande brasileiro. Era uma situação dramática e angustiosa, desenrolando-se no seio da mais remota e assustadora floresta, que cerca de sagrado recato o berço dessas caudais famosas que enchem as páginas de nossa história nas questões de limites com alguns vizinhos: Purus, Juruá, Javari. Tal como assistira e depois narrara, apresentava-se a Euclides o momento decisivo: avançar e talvez sacrificar-se, mas vencer e sustentar bem alto o nome brasileiro; ou recuar, certo de salvar-se e os companheiros, mas deixar sem o último e glorioso arremate a missão honrosa e difícil que o Brasil lhe cometera. Não hesitou o homem, que com Os Sertões afrontara o sentimentalismo

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