Euclides da Cunha a seus amigos

Nesses meses de relativa tranquilidade, preparou Euclides a estrutura de seu livro sobre o Amazonas, que se denominara inicialmente Um Paraíso Perdido, título mudado mais tarde para À Margem da História. Foi no amplo caramanchão do jardim emoldurado de glicínias e ipomeias rubras que foram traçadas as primeiras páginas desse livro ainda sob a emoção do espetáculo esmagador e martirizante dessa natureza única e monotonamente formidável que é a amazônica. A morte trágica não lhe permitiu rever sua última obra, resultado da observação profunda e da admiração quase explosiva, tão de seu temperamento, pela Hylae prodigiosa. Daí, ao certo, a razão de não se encontrar no livro um capítulo que foi esboçado, que se intitulava "Brutalidade antiga" e era a pintura com as fortes tintas de que sabia usar Euclides, da entrada dos povoadores para os altos rios, deixando atrás de si a devastação dos cauchuais e sulco sangrento das caçadas aos índios.

As cartas que se seguem, tão intimamente ligadas a este período daquela vida augusta, cartas guardadas durante 28 anos como documentos preciosos, que pertencem menos ao destinatário do que à história do servidor máximo de nossas letras, mostram uma das faces menos conhecidas da personalidade de Euclides da Cunha. Publicando-as, quero prestar comovida homenagem de saudade ao amigo boníssimo, à alma feita de luz, afogada na dor e desaparecida na mais injusta das tragédias".

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Euclides da Cunha a seus amigos - Página 53 - Thumb Visualização
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