Euclides da Cunha a seus amigos

Que a sua vida foi uma combustão contínua, provam todos os gestos que produziu.

Recordo-me de tê-lo ouvido uma vez referir-se ao Marechal Floriano Peixoto em palavras lamentosas, que velavam um pensamento acerbo. Tinha sido editado o seu livro Contrastes e Confrontos, onde se encontra uma das páginas mais tenebrosas que tem por título Esfinge. Depois de lida esta página misteriosa, contei-lhe algumas proposições, que estavam ema desacordo com o Floriano que eu imaginava.

— E, todavia, disse ele, - esse homem que me fez tremer de assombro num momento, com um gesto e uma frase incisiva de generosidade, repeliu-me de sua presença com uma tranquilidade de que somente os verdadeiros fortes possuem o segredo.

Tratava-se do seguinte. O Marechal ordenara a prisão do General Solon e mandara recolhê-lo à Conceição.

Pela cidade, ou antes, pelos quartéis, propagou-se o boato de que aquele militar seria fuzilado. Pode-se imaginar, dado o temperamento de Euclides da Cunha, qual não foi a sua tortura ao entrar no conhecimento dessa balela. Perdeu a calma de todo. As pernas o levavam para onde não queria; a palavra evadia-se, de contínuo, para não dizer coisas erradas; o pensamento, extremunhado, percutia-lhe o cérebro junto ao alarido da consciência e ao perigo que corria a vida do seu sogro.

Era digna de ouvir-se a narração que Euclides da Cunha produzia das ansiedades que o assaltavam e o mantiveram tenso por longos dias.

Euclides da Cunha a seus amigos - Página 56 - Thumb Visualização
Formato
Texto