Euclides da Cunha a seus amigos

autodemoníacos. As perversidades humanas rescaldaram-lhe a consciência do homem digno.

Começava a tragédia, que terminou pelo desfecho lamentoso que melhor fora ficasse ignorado.

Do mesmo modo que sucedera a Raul Pompeia, desconhecia como ausente as determinantes imediatas da catástrofe.

Por que, tão subitamente, Euclides da Cunha marchou ao encontro daquela morte? Não imaginava tal hipótese senão como o cadáver apodrecido que o poeta descreve pesteando a tripulação do navio, que ignora a sua existência no porão pouco frequentado.

Seja como for, o tufão da perfídia varreu mais esta vítima do temperamento artístico.

A última vez que nos falamos foi na manhã de 7 de agosto. Entrou-me em casa muito aflito por causa de um convite que, por distração, deixara de mandar a um parente meu. Notei-lhe apenas impaciência nos gestos e nas palavras. Conversamos sobre muita coisa, principalmente sobre seus trabalhos geográficos e a edição de um livro que devia sair brevemente dos prelos portugueses.

Não se queria sentar, e para retê-lo foi preciso, mais de uma vez, obrigá-lo a sentar-se. Gracejou, difundiu-se em paradoxos, e pretextando trabalho, fez diversas saídas falsas, porque havia sempre no momento uma resposta a dar-me a troco de objeção.

Referia-se ao seu concurso de Lógica; a direção que pretendia dar ao ensino dessa disciplina; por fim saiu.

Euclides da Cunha a seus amigos - Página 60 - Thumb Visualização
Formato
Texto