e disse-me que aí estava Euclides da Cunha, então em trabalho de concurso no Colégio Pedro II, ameaçado pela inveja e pela incompetência, até de ser reprovado. Tão agitado se mostrava, aludindo a que não resistiria a tamanho golpe, que a ideia sinistra passara pela cabeça de Peixoto e o alarmara na contradita indireta, respondida por Euclides com aquela firmeza que denunciava propósito juntado. Sabendo de minha enternecida admiração por ele, chamava-me para o desconvencer, com o meu coração, pois que não conseguiria sua razão mesma, entretanto a mais persuasiva que a vida já me deu a conhecer.
Inspirou-me o sentimento o caminho curto e direto para tocar o outro. Comecei chamando-lhe a atenção para essa confusão absurda de seu espírito. Quem fazia naquele momento um concurso de Lógica, era um pobre pai de família, necessitado de estipêndio para a abastança do seu lar, e não o autor d'Os Sertões e de outras e futuras obras-primas: este era inacessível a todas as reprovações dos ginásios, faculdades e academias reunidas do Brasil. Caso a conjura do despeito e do ódio lograsse o seu infernal desígnio, tinha Euclides direito e razão em colaborar com eles, porque ofendiam a um, tirando-lhe o prêmio às suas provas de capacidade, matando o outro, que só teria por juiz a posteridade, e subsistiria imarcescível, na admiração dos vindouros, quando todos passássemos, maus que se vingavam na inveja, bons que lhe imploravam não ajudasse a maldade com um ato irreparável...