Que se assim for,
serão mais
Eles que nós a meu ver.
A já mencionada carta de Clenardo a Latônio revela-nos, pela mesma época, como pululavam os escravos em Portugal. Todo o serviço era feito por negros e mouros cativos, que não se distinguiam de bestas de carga, senão na figura. "Estou em crer — nota ele — que em Lisboa os escravos e escravas são mais que os portugueses". Dificilmente se encontraria habitação onde não houvesse pelo menos uma negra. A gente mais rica tinha escravos de ambos os sexos, e não faltava quem tirasse bons lucros da venda dos filhos de escravos. "Chega-me a parecer — acrescenta o humanista — que os criam como quem cria as pombas para ir ao mercado. Longe de se ofenderem com as ribaldias das escravas, estimam até que tal suceda, porque o fruto segue a condição do ventre: nem ali o padre vizinho, nem eu sei lá que cativo africano o podem reclamar".(21) Nota do Autor
Embora os cálculos estatísticos acerca da introdução de negros no reino fossem, em geral, escassos e vagamente aproximativos, é de notar que, em 1541, defendendo o bom nome dos portugueses e espanhóis contra as críticas de Münster, Damião de Góis estimasse em dez a 12 mil os escravos da Nigrícia que entravam anualmente em seu país. E que um decênio depois, conforme o Sumário de Cristóvão Rodrigues de Oliveira, Lisboa contava 9950