CAPÍTULO I
AS CAÇADAS
AS CAÇADAS DEFENSIVAS — AS GRANDES CAÇAS
O sertanejo foi sempre adestrado caçador. É uma das condições necessárias de sua existência, como também um impulso imperioso de instinto ancestral.
Vivendo em recantos solitários e bravios, onde não cessa de multiplicar-se uma fauna de extraordinária variedade, acha-se na frequente, ou antes na contínua obrigação de caçar, quer para defender a sua vida e proteger criações e plantações contra os estragos ou ataques de animais ferozes ou simplesmente nocivos, quer para prover à alimentação da família, ou ainda para divertir-se em dias de folga. Notemos, porém, que o sertanejo nunca "estraga" caças, o que quer dizer que ele nunca mata sem verdadeira utilidade, unicamente pelo gosto de atirar.
Outros motivos poderíamos acrescentar: o interesse comercial — carnes, peles e penas, os sertanejos as negociam em troco de objetos indispensáveis; o interesse imediato também, visto que vários couros de animais são por eles empregados na confecção de diversas peças de sua indumentária; enfim, gorduras, ossos e cascos transformam-se em produtos de variada aplicação doméstica.
Faremos, entretanto, observar como são precários os recursos de que dispõem os nossos caçadores. Além de serem as armas primitivas, com pouca ou nenhuma possibilidade de se consertarem, são de grande custo as munições. Todos, porém, sabem suprir essas deficiências com uma indústria rudimentar. Assim, fabricam pólvora com salitre extraído da própria região; quanto ao chumbo e balas, substituem-nas por pedacinhos de ferro, pontas de pregos ou simples pedrinhas. Em lugar de espoletas, utilizam pedras-de-fogo.
Que diremos das armas? A carabina Winchester ou rifle americano é raridade, fora dos garimpos, e custa uma fortuna; assim também o fuzil de dois canos. A modesta espingarda "fogo-central" é considerada maravilha, mesmo depois de ter