Os sertanejos que eu conheci

apenas poderá mascar fumo, com a condição, porém, de não cuspir no chão e sim na cuia que traz consigo. Talvez terá de suportar por longas horas a demora, aguentando o sereno da noite e lutando contra o sono. Sua paciência não ficará sem recompensa.

Em dado momento, escutará o pisar macio da caça que se aproxima prudente e um tanto desconfiada por causa do cheiro do homem. Mais um pouco e o bicho começará a fartar-se em baixo. Nessa hora o caçador, com mil cuidados, faz exata pontaria e a vítima rola no chão, prostrada pelo tiro certeiro a ecoar no silêncio da noite.

De tal maneira os sertanejos se apaixonam pela "espera" que chegam a perder muitas noites de sono e prejudicar a saúde com a umidade do sereno. Alguns até perderam a vida, quando, vencidos pela fadiga, deixaram cair a arma, que detonou contra eles. São tão vivas, entretanto, as emoções experimentadas nessa espécie de esporte e tão certos e valiosos os resultados, que os sertanejos não se resignam a abandoná-lo.

É tempo de deixar este assunto das caçadas, embora as informações aqui apresentadas sejam incompletas.

Concluiremos asseverando, mais uma vez, que, de encontro às predições dos viajantes do século passado, mesmo do sertanista Couto de Magalhães, a fauna dos nossos sertões, longe de esgotar-se, mantém-se riquíssima, à espera de caçadores que sonham com proezas cinegéticas.

Aos brasileiros corajosos, decididos a afundar-se, por algumas semanas, nas solidões do Tocantins, do Araguaia e do Xingu, prontos a suportar inevitáveis privações, garantimos que, em pleno século XX, lhes serão reservadas agradáveis surpresas. Equipados com armas e munições modernas, guiados por sertanejos experimentados, poderão alcançar brilhantes resultados e daquelas longínquas paragens trarão, com certeza, encantadoras recordações.

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