pela necessidade não somente de prover à alimentação, mas ainda de defender culturas e criações domésticas. Quantos inimigos podem, com efeito, prejudicar os pobres sertanejos! Raposas espertas e teimosas em invadir galinheiros, em devastar canaviais, caititus que cavam por debaixo dos cercados de roças para comer as mandiocas; veados atraídos pelos ramos verdes de feijão, abóboras e melancias, periquitos e pássaros-pretos caindo em nuvens sobre os arrozais... Voltaremos a falar dessas pragas terríveis; aludimos apenas a elas, por enquanto, para observar com que meios os nossos caboclos tentam combatê-las e destruí-las.

O alçapão pode ser uma tábua armada de pregos agudos, uma tora de madeira pesada, ou uma pedra, penduradas habilmente em cima de estreita passagem por onde tentará penetrar o bicho, atraído pelo cheiro de alguma isca. A mesma cordinha ou o arame que as sustenta prolonga-se pelo chão em que a caça há de pisar provocando assim, sobre si, a pancada mortal. Nada mais simples do que o alçapão e todavia só seus resultados são certos e valiosos. Um dos nossos companheiros de Conceição do Araguaia conseguiu com ele exterminar, no curto espaço de alguns meses, setenta e tantas raposas que danificavam o nosso canavial.

As arapucas e os laços são outros meios fáceis de pegar aves e bichos miúdos. São divertimentos de crianças e mulheres que costumam dispô-los em torno da choupana, na beira dos poços, nos caminhos sombrios e solitários da roça ou da vazante. Divertimentos, entretanto, bem proveitosos, pois que não é raro encontrar-se presa no laço ou debatendo-se dentro da arapuca, uma pombinha, ou uma jaó, quando não for um coelhinho, uma paca ou uma cutia.

Outro modo de caçada interessante e muito praticado no sertão é a "espera". Realiza-se essa caçada unicamente em cima de uma árvore, de preferência um pequizeiro ou uma cajazeira, na época do ano em que as flores do primeiro ou as frutinhas perfumadas da outra se desprendem e cobrem o chão. Dessas flores e frutas muitos bichos selvagens vêm fartar-se durante as noites luarentas.

O caçador escolhe de antemão uma árvore que notou ser mais frequentada, verificando pelos rastos impressos na terra quais os bichos que podem interessá-lo: veado, paca, cutia, anta, etc. À tardinha volta, trepa na árvore, suspende entre dois galhos sólidos a sua rede e nela instala-se de espingarda na mão. A regra é manter-se sem movimento, sem fumar, sem tossir;