homens de todas as profissões e dos credos mais diversos — a guerra é total —, devemos, pois, olhar bem de frente essa Esfinge dos novos tempos, para decifrar-lhe o mistério tremendo que em si mesma encerra e fortalecermo-nos na defesa da Liberdade que é exigência essencial e impenhorável da condição humana, para que nem na guerra acabemos por soçobrar, vencidos, nem por ela mesma soçobre, afinal, conosco, a Humanidade inteira.
2. A GUERRA E SUA SIGNIFICAÇÃO COMO FENÔMENO POLÍTICO
Ora, direis, sempre houve guerra, mais ou menos cruenta, encarniçada às vezes, quase sempre brutal, desde que se constituíram e finalmente acabaram por se encontrar em contato — e, daí, em conflito e em choque — grupos sociais autônomos, as hordas, as tribos, os povos primitivos e bárbaros, as cidades ilustradas e ricas, os Estados poderosos e os impérios milenares, todos eles animados de uma consciência coletiva — aqui, mais vigorosa, ali, mais tênue —, conscientes todos de sua própria existência como grupos independentes e, ademais, conscientes também de aspirações e interesses comuns a todos os seus membros integrantes, interesses e aspirações muitas vezes discordantes, senão mesmo antagônicos, em relação aos que, a outros grupos, inspiravam e uniam.
Desde que se formaram os primeiros Estados, sob a forma arcaica dos Estados-Cidades que floresceram e brilharam no mundo da Antiguidade, ressurgindo, ao depois, no terreno fulgurante do Renascimento europeu, desde os grandes impérios fundados pela religião ou pela espada até os Estados-Nações que, ainda hoje, entre nós se multiplicam, quando talvez já desponte, em formas embrionárias — a O.E.A., a O.T.A.N., a O.T.A.S.E. de um lado, e, de outro lado, a U.R.S.S.—, a estrutura multinacional de amanhã, sempre foram os Estados, os verdadeiros protagonistas no cenário internacional, como intérpretes e paladinos autorizados das aspirações e interesses dos correspondentes grupos sociais.
Pouco importa que, nos Estados autoritários — sem rebuços quaisquer, nas democracias —, sob disfarces de maior ou menos consistência, muitas vezes, quando não sempre, se apresentem, como interesses e aspirações da coletividade, alguns que o são, afinal, apenas de uma simples minoria, compenetrada melhor de seus próprios objetivos, bem equipada para a ação política e sobretudo hábil no manejo dos múltiplos controles sociais — a chamada elite dirigente. A capacidade desta em sensibilizar e atrair a massa, em arrastá-la docilmente sob sua liderança eficaz pela força carismática que desperte e assegure o mecanismo mimético que Toynbee tão bem descreveu, dá bem a medida real de seu