Geopolítica do Brasil

poder criador. Como quer que seja, porém, buscando, realmente, essa elite ou minoria, traduzir os interesses e aspirações, ainda informes, que flutuam imprecisos na alma popular ou indo mais além e se empenhando, educativamente, para que o povo compreenda e sinta os seus verdadeiros interesses e aspirações, tratando, maquiavélica ou demagogicamente, de mistificar a massa para que adira a seus objetivos particulares de elite ou coagindo-a a tal — isso é, afinal, acessório —, o fato primacial que vale considerar, no conjunto do panorama internacional, é que cada Estado se move ao impulso potente de um núcleo de aspirações e interesses, mais ou menos definidos com precisão num complexo hierárquico de Objetivos.

Para os Estados-Nações de nossos dias, são seus Objetivos Nacionais.

Entre esses Objetivos, é evidente, cabe posição de relevo aos que dizem respeito à persistência de todo o grupo social, do Estado e da Nação como tais — isto é, à sua sobrevivência no espaço e no tempo, sua autonomia em relação aos demais e o próprio desenvolvimento econômico e social, já que, para as sociedades humanas, assim como para todos os organismos de maior ou menor complexidade, a estagnação é a morte. Conforme as circunstâncias vigentes em cada caso, a sobrevivência, a autonomia, o desenvolvimento traduzir-se-ão em objetivos, secundários porque decorrentes, de conquista de terras alheias ou defesa do próprio território, de agressão ou de paz, de aquisição de riquezas ou salvaguarda de patrimônios, da obtenção de esferas de influência ou libertação econômica, de subjugação cultural ou de afirmação nacionalista, de autarcia, de irredentismo, de liberdade ou de imperialismo, de satelitização, de domínio — toda uma gama de objetivos políticos, econômicos, psicossociais e até mesmo militares, entre os quais se poderão infiltrar, já o assinalamos, e sob racionalizações mais ou menos bem urdidas, aspirações e interesses pouco confessáveis da sagaz minoria dirigente.

Animado, assim, cada Estado por seus próprios Objetivos, e fundamentados estes num código moral predominantemente egoísta, de admirar seria que não surgissem antagonismos diversos, alguns de importância vital incontornável, entre certos Estados, por quererem estes cousas opostas quando não, cada um para si, a mesma cousa, nessa paisagem anárquica que continua a ser, a despeito de todos os esforços despendidos milenarmente em tratados e ligas sempre pouco duráveis, a vida internacional no planeta. E é buscando solucionar, a relativo contento dos diversos interessados, esses antagonismos entre Estados, que surge, então, a diplomacia, com todo o seu velho arsenal de práticas conciliatórias, o seu formalismo aparentemente tão ridículo quanto útil de fato, e a manha, a estratégia que faria a glória duradoura de um Metternich, de um Disraeli ou de um Talleyrand.

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