Os desencontros entre Rodrigues Alves e Rui Barbosa são páginas das mais controversas e estimulantes que hão de contribuir decerto positivamente para a revisão não apenas dos retratos de duas grandes personalidades, como também para a compreensão da história da Primeira República.
Outro ponto a chamar atenção: a atitude de Rodrigues Alves, quando presidente de São Paulo, em defesa do café brasileiro, no caso do sequestro dos estoques desse produto, em Nova Iorque, por autoridades norte-americanas (1912), como também por ocasião das dificuldades ocorridas com o armazenamento do nosso café nos portos do Havre, Hamburgo e Nova Iorque, na Primeira Guerra Mundial. Trata-se de assunto que não foi ainda devidamente estudado, e que no livro de Afonso Arinos aparece em toda a extensão e gravidade, dando a Rodrigues Alves um papel decisivo e patriótico, a compor mais uma faixa estelar na sua glória de estadista.
Rodrigues Alves: apogeu e declínio do presidencialismo não se limita, portanto, a um simples relato da vida e atuação de um homem público. Baseado em documentos até agora não utilizados de arquivos particulares, de Rodrigues Alves, Afonso Pena e Altino Arantes, entre outros, a biografia se insere como parte fundamental do grandioso painel de uma época.
Não é somente Rodrigues Alves que surge redivivo das páginas destes dois volumes, mas a própria história brasileira nos 50 anos em que o conselheiro imperial e chefe republicano desenvolveu a sua atividade de político de primeira grandeza, como deputado geral, presidente de província, senador federal, ministro de Estado, presidente de Estado, presidente da República.
O adjetivo monumental — malgrado o perigo do lugar comum! — é o que realmente deve ser aplicado ao livro de Afonso Arinos de Melo Franco. A pequena estátua que se ergue no antigo Largo do Rosário, em Guaratinguetá, homenagem municipal, era, de fato, insuficiente para vulto de presença tão marcante no Império e na República.
Lembro-me que Costa Rego, mestre do jornalismo, num dos seus últimos artigos, na fase áurea do Correio da Manhã, reclamava o monumento que faltava ao insigne reformador e modernizador do Rio de Janeiro. Pois ele aí está: o livro de Afonso Arinos.
(Nota introdutória.)