Rodrigues Alves - Tomo 1

Apogeu e declínio do presidencialismo

e dos segredos da sua autoridade, que explodem, por assim dizer, em quatro anos de ação vertiginosa e fulgurante, que a muitos parecem saídos da penumbra e a ela restituídos.

Mas o reino da História é o dos fatos, e os fatos, embora às vezes determinados pelo acaso, não se baseiam em milagres.

O Rodrigues Alves presidente não teria existido se não existisse o Rodrigues Alves político; político até à medula dos ossos; político dos bancos da Faculdade de Direito ao leito de morte, na hora da morte.

É o deputado provincial e geral e o presidente da Província no Império; é o presidente do Estado, o constituinte e o senador; o ministro da Fazenda; o jornalista e o homem de partido; o chefe eleitoral municipal e o líder político estadual e nacional, na República; o pai de família e o lavrador de café; é este homem arguto, probo e sensato, tolerante e rude, conforme as circunstâncias, modelado pela mais variada experiência do seu tempo, haurida, por equilibrada inteligência, na vida e não nos livros, que não pode ser separado do presidente sem que este se transforme em mito.

O chefe de Estado de glória assentada tem sobre si uma luz histórica demasiado forte, a qual vem mantendo na sombra, até este livro, o homem que existiu no presidente.

Impunha-se, assim, e desde muito tempo, um retrato de Rodrigues Alves de corpo inteiro. Esta foi a finalidade do presente trabalho que, sem poder assegurar ter atingido, esforcei-me, dentro da limitação das minhas forças, por alcançar.

Historicamente a revelação da personalidade de Rodrigues Alves é tarefa de magna importância, porque, indo muito além da sua pessoa, explica em grande parte — talvez se possa dizer na maior parte — toda uma época da vida nacional, que é a entrada do Brasil no século XX.

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Ao contrário do que sucedeu com Um estadista da República não entremeei a composição deste livro com qualquer atividade política.

Embora, através de leituras e notas ocasionais, viesse, desde vários anos, acumulando materiais e reflexões sobre ele, seu preparo real só começou a partir de quando terminei meu mandato de senador pelo Estado da Guanabara, em março de 1967,

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