REFORMA DO BANCO DO BRASIL
Esta reforma, pela sua importância no contexto da política geral, merece explicação.
Campos Sales, com implacável energia e obstinada convicção, interviera com toda a força do poder público para restabelecer, paradoxalmente, a liberdade spenceriana da economia. O funding loan de 1898 visava a liquidar a política de expedientes, feita de empréstimos e emissões, herdada do Império e levada ao auge no Encilhamento, para fazer o país entrar na linha do equilíbrio. Seu mecanismo era o seguinte: os títulos do novo empréstimo seriam emitidos durante três anos, a partir de julho de 1898 e, para cobertura dos mesmos, o governo emitiria somas iguais de papel-moeda ao câmbio de 18, sendo este dinheiro depositado pelo governo nos três bancos estrangeiros, o River Plate, o London e o Deutschland. Por meio de impostos e economias, o governo apuraria, em cada exercício, saldos correspondentes ao valor dos títulos emitidos durante o ano. Esses saldos orçamentários seriam incinerados (deflação) ou, caso o câmbio permitisse, convertidos em letras-ouro em favor da Casa Rothschild, para serem aplicados no pagamento dos empréstimos. Como se vê, os bancos estrangeiros, que tanto ajudaram a queda do câmbio e as emissões, durante os governos de Floriano e Prudente, apareciam agora como verdadeiras entidades públicas, controlando a vida financeira do país. Isto, que estava na mentalidade do tempo, seria hoje impossível no Brasil.
Campos Sales, para honrar os compromissos, tornou-se detestado. Ele próprio, na sua fala de recusa ao comércio, que desejava abrandamento das medidas de economia verdadeiramente asfixiantes, exclamou: "E os empregados públicos, que viram rebaixados os seus vencimentos? E os operários, que de um dia para outro se viram sem emprego e sem pão?" Esse quadro, sucintamente pintado pelo presidente, mostra a dificuldade que o governo enfrentou de modo implacável.
Tal política levou a quebras numerosas, à paralisia dos negócios, à miséria popular. Entre os estabelecimentos atingidos pela tormenta estava o Banco da República, cuja presidência Afonso Pena deixara em novembro de 1898, passando-a ao Comendador Luís Martins do Amaral, indicado pelo governo.
Apesar da ligação entre o governo e o Banco, não pôde este resistir à crise de súbita deflação promovida por aquele.