Rodrigues Alves - Tomo 2

Apogeu e declínio do presidencialismo

O projeto de Alfredo Ellis teve parecer contrário da Comissão de Finanças, relatado pelo senador gaúcho Ramiro Barcelos. Em certo momento da discussão que se travou entre o autor e o relator apreende-se bem as intenções e o estado de espírito dos contendores. Ellis declarou que se devia valorizar o café, mediante compra, feita pelo governo federal, de "quatro ou cinco milhões de sacas", financiando-se a operação com um empréstimo. "De onde tirá-lo?", perguntou Ramiro. "De onde tirou os oito e meio milhões de esterlinos para as obras do porto e para a Avenida", retrucou Ellis.

Nesse ponto é que estava a dificuldade. Os Rothschild, banqueiros do Brasil, estavam empenhados na política de restauração cambial e monetária vinda do governo Campos Sales, mas não tinham interesses no comércio do café, artigo de pouca saída na Inglaterra.

A mudança da política vigente implicaria em dificuldades cambiais e de pagamento dos empréstimos, que eles tinham negociado para as obras do governo. Por isso mesmo os Rothschild se oporiam a qualquer mecanismo de valorização do café. Só depois de assinado o convênio entraram no negócio.

A iniciativa do Senador Ellis não teve andamento no Senado, mas, a 28 de agosto, ela se renovou na Câmara, com mais vigor, através de projeto apresentado pelo paulista Cândido Rodrigues (que fora secretário de Rodrigues Alves no governo paulista) e assinado por 34 colegas, na quase totalidade representantes das zonas cafeeiras de São Paulo e Minas Gerais.

Visava o projeto, especialmente, fixar preço mínimo para o produto, fazer propaganda dele a fim de aumentar-lhe o consumo, conceder crédito aos produtores, limitar a produção e recorrer ao crédito externo, para mobilizar o plano. A 21 de dezembro, a Comissão de Orçamento, em longo e bem estudado relatório relatado pelo piauiense Anísio de Abreu, deu parecer contrário ao projeto. Assinale-se que Davi Campista, futuro ministro da Fazenda de Afonso Pena, assinou este parecer, que se chocava com a orientação que depois assumiu. O parecer negativo foi objeto de longo voto divergente do paulista Galeão Carvalhal, no qual se alinham todos os argumentos então predominantes em favor da valorização do café e da intervenção do Estado no domínio econômico.

Ficou o assunto esquecido na Câmara, até meados de 1904, quando, em 10 de agosto, voltou a debate, com um estudo da

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