pela Abolição, ao lado de Nabuco, a qual também não considerou oportuna, nos momentos iniciais da campanha. Em 1917, sofrera no coração as alusões malignas e os ataques abertos que Rui lhe fizera no manifesto contra sua candidatura. Mas isso não o impediu de, com a admiração de sempre pelo gênio de Rui Barbosa, convidá-lo para repetir a glória de Haia.
Rodrigues Alves tentou o último encontro com o velho companheiro. Suas vidas corriam paralelas havia exatamente meio século, desde aquele remoto ano de 1868, em que o eloquente moço da Bahia encontrava sob as Arcadas o laureado estudante de Guaratinguetá. Desde aquela fase dourada dos vinte anos, as suas vidas corriam paralelamente nos debates políticos e acadêmicos que animavam o pequeno burgo paulistano, adormecido nas ruas estreitas e na névoa da garoa.(1) Nota do Autor
Em agosto de 1918, festejara Rui o jubileu da sua glória literária e Rodrigues Alves deu mais uma prova de sua constante admiração intelectual, como se estivesse procurando comemorar as bodas de ouro de uma rivalidade de meio século. No dia 11 de agosto de 1918 o presidente eleito da República enviou este telegrama ao senador pela Bahia:
"ÀS GRANDES FESTAS NACIONAIS INICIADAS HOJE, COM BRILHO EXCEPCIONAL, EM COMEMORAÇÃO AO JUBILEU LITERÁRIO DE V. EX.ª EU ME ASSOCIO COM ORGULHO, ENVIANDO AO EMINENTE HOMEM DE LETRAS AS HOMENAGENS DA MINHA PROFUNDA ADMIRAÇÃO E RESPEITOSA ESTIMA."
Os discursos fulgurantes do acadêmico baiano, as filípicas e catilinárias da tribuna parlamentar do Império e da República, a formidável obra do editorialista do Diário de Notícias e da Imprensa, as colossais orações da Campanha Civilista, a construção ciclópica da Réplica, toda esta montanha de palavras escritas e faladas devia ressurgir na memória de Rodrigues Alves, no momento em que, esquecido das farpas do ferino manifesto do ano anterior, trazia, com orgulho, sua oferenda de brasileiro ao altar de glórias do companheiro.
Mas este companheiro não tinha a ventura de conhecer aquela ternura de alma, aquele acolhimento compassivo que o tempo deixa cair, tantas vezes, sobre o coração ressequido dos velhos,