Rodrigues Alves - Tomo 2

Apogeu e declínio do presidencialismo

como uma espécie de orvalho abençoado, que faz os ressentimentos reverdecerem em sentimentos e a flor da afeição rebrotar no ramo seco das hostilidades.

Rui era um puro cerebral. Suas provas de generosidade — e citamos mais de uma relativamente a Rodrigues Alves — vinham da inteligência, nunca do coração.

Não era por habilidade política que o candidato triunfalmente indicado, apesar da áspera reprovação de Rui; o consagrado no pleito presidencial mais tranquilo que a República conhecera; não era por habilidade política, mas movido pela sua permanente admiração e pelo seu vigilante patriotismo, que Rodrigues Alves enviou de Guaratinguetá, por intermédio do seu filho José (que servira com Rui em Haia em 1907) esta carta quase humilde:

"Guaratinguetá, 3 de dezembro de 1918.

Ex.mo Sr. Senador Rui Barbosa.

Hoje me dirijo ao Ex.mo Sr. Dr. Delfim Moreira informando-o da solução, assentada em meu espírito, desde que fui reconhecido presidente, de convidar V. Ex.ª para chefiar a delegação do Brasil na Conferência da Paz que está prestes a ser inaugurada. Sei que o vice-presidente tem o mesmo pensamento. É, aliás, a vontade geral da nação que assim presta mais uma homenagem ao preclaro nome de V. Ex.ª. Era meu propósito levar a V. pessoalmente, esse convite. Infelizmente não posso fazê-lo, por ter necessidade de mais alguns dias de descanso. O senhor ministro do Exterior, porém, dará a V. Ex.ª todas as informações que se refiram àquela delegação, e ao pensamento do governo quanto à forma de a constituir. Apesar de grandemente honrosa a comissão, compreendo bem a extensão do sacrifício reclamado de V. Ex.ª e a República espera, com toda segurança, que V. Ex.ª não se recusará ao seu apelo."

A resposta de Rui, datada de 8 de dezembro, é muito longa. Estende-se por 16 páginas datilografadas. Não podemos, por isso, senão oferecer dela um resumo. Rui começa por acentuar o desejo que teria em aceitar o convite, e não esconde que pensara, antes, na possibilidade de vir a recebê-lo. Chegara a admitir que Venceslau, com a antecedência que ele, Rui, julgava preferível, tivesse assentado a escolha do seu nome, porque a missão, das mais espinhosas, exigia tempo e preparo. Chegava a aceitar que Rodrigues Alves o tivesse convidado a partir do

Rodrigues Alves - Tomo 2 - Página 850 - Thumb Visualização
Formato
Texto