Rodrigues Alves - Tomo 2

Apogeu e declínio do presidencialismo

armistício (11 de novembro) ou a partir do início do seu mandato, no dia 15 daquele mês. Mas — e este era um dos pontos capitais da sua recusa! — o Jornal do Comércio, em vária de 24 de novembro, afirmara que o chefe da delegação seria o ministro do Exterior, Domício da Gama, segundo a prática a ser seguida pelos demais países. Mostra-se amargurado com as intrigas da imprensa, que, acreditando na vária citada, salientavam que ele, Rui, iria como subordinado de Domício. Procede a uma verdadeira demolição da entrevista que Domício dera a um vespertino sobre a Conferência, destruindo inapelavelmente, uma por uma, as opiniões do chanceler sobre os futuros trabalhos; opiniões cuja fragilidade e falta de razão demonstra. Apega-se ao argumento de que não poderia, como delegado, seguir tais diretrizes. Segundo afirma, "o ilustre ministro" não o apoiaria, como o apoiou "o grande ministro" Rio Branco.

Quanto ao atraso com que recebeu o convite, Rui se queixa direta e francamente do próprio Rodrigues Alves. Lembra que Afonso Pena o convidara com três meses de antecedência, e não nas vésperas da Conferência, como o atual presidente fizera.

A nova carta de Rodrigues Alves a Rui, datada de 12 de dezembro, e destinada a comunicar o recebimento da recusa, mostra, mais uma vez, a extrema delicadeza do presidente, mas também revela até que ponto lhe desgostara a atitude do amigo. Nesse documento, Rodrigues Alves diz-se "consternado" pela recusa, mas declara-se sem liberdade para insistir, pois não queria melindrar, dando a impressão, com a insistência, de que punha em dúvida a sinceridade das suas razões. Isto não quer dizer que concordasse com elas, pois contesta formalmente que o convite houvesse sido tardio. "Ao contrário, foi feito no momento oportuno, isto é, nos primeiros dias do atual governo." Não poderia fazer tal convite nos últimos dias do governo Venceslau, sem ser indiscreto para com este. E escreve, com clareza: "Espero que V. Ex.ª não insistirá nas recriminações que me fez."

Não falha aos seus deveres superiores do chefe de Estado e à sua admiração de homem, ao encerrar a carta com a afirmativa de que esperava que Rui "continuasse a honrar o governo com o prestígio de sua grande capacidade e os conselhos de sua sabedoria".

O presidente não podia deixar-se levar por mágoas ou ressentimentos. Cumpria-lhe homenagear, até o fim, um brasileiro que merecia homenagens de todos os brasileiros. Mas Rodrigues Alves sai engrandecido do episódio, enquanto de Rui não se pode afirmar a mesma coisa.

Rodrigues Alves - Tomo 2 - Página 851 - Thumb Visualização
Formato
Texto