Rodrigues Alves - Tomo 2

Apogeu e declínio do presidencialismo

LIVRO XVII

AS DUAS MORTES


Começava o ano de 1919. A atmosfera internacional era de euforia. Jazia esmagado o militarismo prussiano, e o mundo ocidental parecia renascer em nova idade de ouro, na qual a paz, o direito e a liberdade reinassem sobre a violência, o obscurantismo e a tirania. A chamada década dos "felizes anos vinte" começou, de fato, em 1919.

Essa década otimista já se mostrava no fim muito deteriorada, pela ação marxista seguida da reação fascista, confrontação que enfraqueceu a democracia. Esse processo, adaptando-se às condições peculiares do Brasil, pode ser acompanhado a partir do desaparecimento de Rodrigues Alves até a vitória da Revolução de 1930, a qual se seguiu aos períodos de perturbação dos tradicionais processos republicanos iniciados no governo Epitácio, prosseguidos no de Bernardes e culminantes no quatriênio de Washington Luís, os três fortes presidentes da decadência.

Rodrigues Alves permaneceu em Guaratinguetá até depois do Natal de 1918, sempre nas mesmas alternativas de saúde. A temperatura não mais se elevou a níveis alarmantes; mantinha-se porém estacionária uma febrícula renitente. Seu enfraquecimento geral era patente, e uma de suas consequências era uma inapetência completa. Comer para ele era verdadeiro sacrifício.

O Natal foi triste, pois a filha Catita não veio passá-lo em Guaratinguetá com as netas, que tanto o divertiam.

Depois do Natal o presidente sentiu-se bastante bem para regressar ao Rio. Viajou em trem especial, acompanhado somente pelas três filhas solteiras Marieta, Zaíra e Isabel, pelo filho Oscar e por um engenheiro da estrada de ferro. Grande número de políticos e amigos o esperavam na estação da Central, e Cândido Mota Filho, que ali foi representar o pai, achou o presidente muito abatido, pálido, o pescoço envolvido em um lenço de seda branca, apesar do verão.

No entanto, depõem as filhas, estava perfeitamente lúcido.

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