Instalado na casa renovada de Senador Vergueiro, passava a maior parte dos poucos dias que lhe restaram, de cama, mas levantava-se às vezes, ia até à secretária, tomava notas, ou, sentado, lia os jornais.
Seu interesse pelos assuntos políticos permanecia vigilante, como sempre, como em toda a vida. Era uma curiosidade, um desejo de se informar que não cessava. À tarde, recostava-se na cama e reclamava do filho deputado o relato minucioso do que havia ocorrido na sessão e nos corredores da Cadeia Velha.
Nesses dias que antecederam à morte, o presidente conservava sua indomável energia e completa lucidez. Esta, como veremos, permaneceu até os últimos momentos. Mas o estado progressivo de debilitação física era implacável.
No dia 2 de janeiro de 1919, o ajudante de ordens, Coronel Lejeune, comunicou a Altino que Rodrigues Alves dissera que renunciaria imediatamente, se o seu sucessor fosse o próprio Altino: queria dizer, provavelmente, alguém que lhe merecesse total confiança.
No dia 3, os telegramas e boatos que chegaram ao presidente de São Paulo sobre a saúde do Conselheiro eram alarmantes. Oscar, diz Altino, "revelou-lhe o que se estava passando no Rio". O pai caíra em novo ataque de anemia (este era o nome dado ao estado geral de caquexia). Não havia perspectiva nenhuma de que pudesse assumir o governo. O mais sério era que Delfim exigia plenos poderes, ameaçava retirar-se para Minas se não pudesse governar por si, ou, pelo menos, com ministros "mais dóceis ou mais amáveis com ele". As queixas do vice-presidente se concentravam na pessoa do ministro da Fazenda, Amaro Cavalcânti, que, sendo de todos os membros do governo o mais chegado a Rodrigues Alves, entendeu de tomar atitudes de primeiro-ministro, em regime presidencial. Surda luta começou entre Amaro e Melo Franco, que representava Delfim e os mineiros. Os próprios filhos de Rodrigues Alves confirmavam a Altino que Amaro procedia desastradamente, nas delicadas circunstâncias. O resultado foi sua demissão, depois da morte do presidente, e a substituição pelo mineiro João Ribeiro.
No dia 3. Altino anota que os filhos do Conselheiro eram de opinião que o pai devia pedir licença por tempo indeterminado e deixar Delfim governar com seus próprios homens. Na véspera, dia 2, Delfim procedeu a duas reuniões do seu ministério.