O frontispício — exclusive a porta principal, de calha, em arco abatido, que pode, ou quiçá deve ter sido do século XVIII —, é inequivocamente do século XIX, que, na arquitetura religiosa, imitava o século XVIII, embora sem a mesma compreensão. Provam-no: as portas-sacadas do coro, em arco pleno (tipo de arco introduzido no século XIX), mas com uma exagerada aproximação dos cunhais, que desproporcionou o frontispício; o óculo em forma de trevo de três círculos, cujos centros formam triângulo equilátero inscrito na linha encurvada da cimalha, claramente inspirado em iguais pormenores da Igreja do Carmo, do mesmo modo que o frontispício da Matriz do Pilar inspirou-se no da Igreja de São Francisco de Assis — estas duas igrejas, a do Carmo e de São Francisco de Assis passando a servir, por todo lado, como fontes de inspiração. A pior parte do frontispício existente, é, porém, o frontão curvilíneo arrematado com uma sineira ao centro e dois coruchéus em pirâmide, sobre os cunhais, tudo de formas convencionais, bastardas, feitas com insensibilidade e mau gosto. E, indubitavelmente, muito inferiores às da graciosa capelinha do século XVIII, revelada agora pele primeira vez."
PAULO SANTOS
[Ver Figura 55 no original.]
Capela de Nossa Senhora das Dores, como aparece à página 156 de A Arquitetura Religiosa em Ouro Preto, de autoria de Paulo Santos.