se é possível dizer, uma vez que a grandeza não emerge de nenhum empíreo sublime e misterioso. Na realidade, a grandeza guarda em si as misérias de que ela triunfa e que estão tão estreitamente associadas à condição humana, de que tentaríamos em vão libertá-la. O autor, sempre que lhe era dada alguma oportunidade, saía assim em defesa do índio brasileiro, antecipando-se aos etnólogos e etnógrafos que mais tarde lhe penetrariam a fundo na cultura material e espiritual, insurgindo-se contra as muralhas levantadas pela nossa suposta superioridade. Na verdade, o índio brasileiro não o decepcionou, nunca chegando a ser aquela criatura repulsiva e retrógrada dos que pretendem saber "tudo" acerca do homem e da natureza humana. O que ele fez, sim, foi denunciar às autoridades o mal que ocorria em São Jerônimo e Jataí a respeito das duas reduções ali existentes, dirigidas por pessoas incapazes, que se locupletavam com os dinheiros públicos sem dar cumprimento à missão que lhes estava afeta de incorporar o índio a serviço da nação, fazendo-o lembrar o trabalho admirável dos jesuítas em épocas bem anteriores, quando cidades foram levantadas e a incorporação do índio já despertava a inveja e a cobiça dos bandeirantes de São Paulo, a respeito de quem são ditas algumas verdades contundentes.
Ao contrário da maioria dos viajantes estrangeiros, que nos visitaram, Bigg-Wither se fixou em nosso meio por contingências de sua profissão, é exato, mas assim com tempo de nos analisar mais a fundo, guiado pela sua curiosidade insaciável, pela sua formação naturalista que o levava a esquadrinhar tudo, preocupado com os detalhes mínimos das coisas, crente de que elas podem mudar, e frequentemente mudam, neste mundo, sem nenhuma ideia preconceituosa acerca dessa tão discutida lei da repetição que tanto influi na substância das coisas e na substância do próprio homem. Contra essa interpretação demissionária do mundo, de não considerá-lo modificável em muitos aspectos, tudo que este livro descreve representa, sem dúvida, o mais sério desmentido. Homem saudável, homem amorável, ele era um representante típico do vitorianismo, que parecia ser o maior desmentido dessa mudança a que está sujeita a vida cósmica da natureza, como já sucedia no Brasil de então, cujas modificações rápidas ele tivera oportunidade de observar nos três anos de sua vida entre nós. No fundo, como súdito fiel da Rainha Vitória, ele compreendia que a Inglaterra de seu tempo construíra uma civilização, dentro de cuja filosofia a liberdade, a justiça e até a felicidade não eram palavras vãs, tornando o inglês demissionário no sentido de considerar a melhoria do resto do mundo apenas ilusória miragem. Bigg-Wither procurou