O Governo Castelo Branco

Aliomar Baleeiro, por exemplo, além da cultura, notabilizava-se pela tenacidade e rudeza no combate - parecia indiferente ao sofrimento do adversário - e a ele aplica-se aquela imagem de Joaquim Nabuco, ao retratar Zacarias de Góis e Vasconcelos: "A sua posição lembra um navio de guerra, com os portalós fechados, o convés limpo, os fogos acesos, a equipagem a postos, solitário, inabordável, pronto para a ação." Outro da primeira fila era Pedro Aleixo, antigo presidente da Câmara, onde se iniciara jovem, aprendendo os segredos da vida parlamentar, o que fazia dele um tático e um estrategista capaz de preparar os lanços remotos de uma batalha. Também de Minas Gerais viera Oscar Correia, cuja inquietação intelectual não lhe permitiria conformar-se em não ter logo o primeiro posto. Mas, a impaciência dificilmente se coaduna com o ritmo partidário, e ele acabaria preferindo a liberdade da advocacia. O reverso dessa imagem era Herbert Levi, deputado por São Paulo, infatigável e obstinado na consecução dos seus objetivos. Inclinado aos assuntos econômicos e financeiros, parecia incansável ao discursar horas a fio, triturando os antagonistas com argumentos que repetia sob várias formas, até esgotar todas as prorrogações do tempo. Dir-se-ia um pastor a lutar pela sua igreja. Muitos eram os eleitos... Paulo Sarasate, sempre apressado, cordial, atento em fazer algum obséquio; Guilherme Machado, frequentemente na posse de alguma fórmula da alquimia política; Adauto Lúcio Cardoso, precocemente encanecido, mas atirado como um adolescente movido por um ideal. Na fase derradeira foi importante o papel de Bilac Pinto, divulgando o ideário e métodos da "guerra revolucionária", assunto então praticamente ignorado. Dizia-se que se empenhara na matéria por intermédio de oficiais do Exército dispostos a advertir o país dos perigos iminentes. Presidente da UDN, dando às próprias palavras um tom grave, fazendo-as parecer ainda mais verdadeiras e proféticas, Bilac desvendou a maneira insidiosa por que se preparava a "guerra revolucionária", inclusive distribuindo armas a homens do campo. Falando pelo país a fora, ele convocava os incrédulos e reanimava os que haviam perdido a fé.

Além de políticos e militares, várias correntes de opinião almejavam pôr termo à intranquilidade, o que se refletia claramente em importantes jornais. Eugênio Gudin, por exemplo, publicista a quem o tempo não diminuíra a lucidez e a combatividade, era infatigável nos artigos publicados no O Globo. No O Estado de São Paulo, Júlio de Mesquita Filho prosseguia velho trabalho de erosão dos remanescentes do getulismo. Havia os angustiados pela falta de autoridade do Presidente, tido como joguete na mão dos mais audazes, enquanto outros anteviam as terríveis consequências da inflação iniciada com Juscelino, e que depois de atingir 80% em 1963 prometia alcançar

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