CAPÍTULO XXVII
OS MIL DIAS
DESAPEGADO DO PODER, preparado para o deixar, Castelo, entretanto, almejava a continuidade da política financeira. Sabia dos sacrifícios que ela custara ao país, e com desapontamento ouviu o ministro Bulhões dar-lhe conta da indiferença de Costa e Silva ao assunto. Do episódio conservei esta nota:
"Brasília, 15 de dezembro de 1966. Cerca das 15:00h vou ver o Presidente, sugerindo chamar o senador B. Valadares e o deputado Ivan Luz, que se encontram na ONU. O Presidente fala pelo telefone com Pio Correia. Em seguida, diz-me estar preocupado. É a primeira vez que o ouço manifestar-se assim. Explica que o ministro Bulhões, devendo mandar ao FMI (Fundo Monetário Internacional) uma carta de intenções, procurara-o para saber como devia agir e ele o aconselhara a fazê-lo na base do Orçamento, mostrando-o em seguida a Costa e Silva. Hoje o Bulhões informou ao Presidente que, havendo procurado o C. e S. [Costa e Silva], este nem quisera ler a carta, limitando-se a dizer que precisava fazer a sua política para somar. 'O Castelo tem o prestígio dele, a força dele, a política dele, eu, preciso fazer a minha política.' Também deixou claro que não continuará nenhum ministro. O Presidente não esconde a preocupação por causa da política financeira, que pode ir por água abaixo. Diz que por isso mesmo pretende a 16 de março desaparecer, evitando intrigas. O Presidente comenta longamente o que decorre do abandono da política financeira e diz que acredita que o C. e S. congelará os preços, medida simpática. 'A Bélgica fez isso.' Bulhões decepcionado. Mais tarde encontro-me com Roberto Campos que me conta haver estado com C. e S., dizendo-lhe ser oportuno, caso fosse essa a sua intenção, anunciar a permanência de Bulhões. C. e S. respondeu ainda não estar preparado para decidir. Campos disse-lhe que não devia continuar."
O dissabor, entretanto, parecia nuvem fugaz no espírito de Castelo. Com entusiasmo igual ao dos primeiros dias, ele se lançava às reformas,