preparando a semeadura. Fazia-o sem pensar no fim próximo, senão sobrepondo-se ao destino de quanto construíra laboriosamente. Cumpriria a sua missão. De fato, embora ninguém melhor do que ele soubesse o que o futuro poderia oferecer ao país, costumava tranquilizar os céticos e deprimidos pela inutilidade de qualquer esforço daí por diante. Que valiam reformas, se não lograra um sucessor para lhe continuar e preservar as iniciativas? Aos desalentados Castelo reiterava o lenitivo: "Vocês vão ver como o Costa será diferente no Governo." Acreditaria? Muitos julgavam que preferia iludir-se.
Na realidade, por aparente contradição, o Presidente, embora se eximisse de influir na formação do futuro governo, interessava-se em salvar um trabalho árduo, importante, mas passível de ruir à menor vacilação. Resolvera ser apenas um espectador intranquilo. Assim, quando Costa e Silva lhe comunicou uma das escolhas para o Ministério, fez questão de pô-lo à vontade, alheando-se inteiramente do assunto: "Você não tem que me dar qualquer explicação sobre os ministros que vai escolher. Se entender que, para o bem do Brasil, um deles deve ser o Carlos Lacerda, pode nomeá-lo, que comigo não terá problema."
Embora não o revelasse a ninguém, certamente o molestara recrutarem-se vários dos novos ministros entre pessoas que lhe eram desafeiçoadas. A ferida, entretanto, não lhe perturbava as apreciações, sobre cada qual tinha o comentário adequado, colocando às vezes uma ponta de ironia na breve observação. Disse-me, por exemplo, ao saber do convite a Albuquerque Lima: "É homem trabalhador, capaz, com gosto do mando, e sempre esteve magoado comigo." Gradativamente, Castelo percebia crescer aos seus olhos a maré das hostilidades.
O tempo parecia correr ainda mais rápido. Ao despontar o novo ano, Castelo estava em Fortaleza, e, como nos anos anteriores, dirigiu ao país uma palavra de esperança:
"Tivemos um ano bem árduo - dizia a mensagem - e, no entanto, marcado por conquistas irreversíveis. Não faltaram, é certo, as pressões de grupos e interesses contrariados. Tampouco silenciaram os pessimistas congênitos e os magoados pela infidelidade do tempo às suas contradições. Agitadores profissionais insinuaram mesmo romper a coesão das Forças Armadas e artificialmente conflitar civis e militares. Não obstante tudo isso, e graças aos elementos autênticos do país, a Nação não esmoreceu.
Velhas estruturas que comprometiam o desenvolvimento nacional cederam e operam-se importantes mudanças institucionais. A programática do Governo desdobrou-se, substancialmente, em todos os setores da administração. Mais de cinco trilhões de investimentos públicos estimularam o nível de produção industrial. Os instrumentos