ASSENTADA
Elogo no mesmo dia, mez e anno declarado no auto supra nesta vila de São Carlos em casas do Juiz de Paz Jose da Cunha Paes Leme, onde eu Escrivam ao diante nomeado me achava, por elle Juiz me foi determinado fizesse a prezente assentada, para de baixo della erem inquiridas, e perguntadas, as testemunhas, cujos nomes, naturalidades, idade, qualidades, estados, domicilios, vidas e costumes ao diante vão e seguem.
Do que para constar dis este Termo de Assentada Eu Manoel Francisco Monteiro Escrivam de Paz o escrevi.
DEPOIMENTO DAS TESTEMUNHAS
O sargento mor Antonio Francisco de Andrade, homem branco, casado natural desta vila digo natural da villa de Parnaiba, emorador desta, de idade que disse ter, quarenta eseis annos, que vive de seu Engenho, de assucar, e do costume nada digo e do costuma disse ser o proprio denunciante, e hum dos Proprietarios.
Testemunha jurada aos Santos Evangelhos em hum livro deites em que pos sua mão direita sob cargo do qual lhe foi por ele Juis encarregado dicesse a verdade que soubesse, e perguntado lhe fosse; e recebido por elle testemunha o dito juramento, assim a presente cumpriu.
E logo disse, que faltando lhe hum seu escravo de nome Francisco, as suas ordens, o castigou, apezar disto continuou a desobedecer, e entrando no conhecimento de que fazião ajuntamentos nocturnos, a onde se juntavão seus escravos, e os de outras Fazendas vizinhas, e fazião seus clubs, e entrando elle testemunha na indagação de taes ajuntamentos com seu irmão o Ajudante José Franco de Andrade, de onde por estes, e outros semelhantes motivos, mesmo pela falta da devida obediencia, pegarão em huma parte de escravos dos quaes se suspeitava fossem capazes de huma empreza malicioza, principiando a castigar parte delles, bem como os — da Mai dele testemunha, e entre escravos, hum de maior confidencia que sempre foi delle testemunha, sendo chamado por meio de amizade depois de ser castigado, e fazer lhe ver ao dito escravo José congo, que elle testemunha sabia de tudo quanto elles manoblavão, mas como ainda lhe tinha algum resto de amizade, se lhe fizesse ver digo se lhe — fizesse — huma verdadeira confissão, sem que nella lhe faltasse, couza alguma, ficaria perdoado.
Com estas palavras o escravo dito, assentou que elle testemunha era sabedor de tudo, e principiou a descubrir o que tramavão, e o que está descripto no officio de trez de fevereiro do corrente anno, e outro de sete do dito mez, que acompanhava a rellação, que tudo remettera a este Juizo, e a que tudo se reportava, tendo de mais a apresentar as armas que forão achadas dos mesmos escravos, que vem a ser, huma zagalha, e as mais não apparecerão, supondo havellas escondido, e mais não disse.
E lido o seu depoimento, pelo achar conforme assignou com ele Juiz. Eu Manoel Francisco Monteiro Escrivam de Paz o escrevi = Cunha = Antônio Francisco de Andrade.
TESTEMUNHA
O ajudante José Franco de Andrade homem branco cazado, natural de vila de Parnaiba, emorador desta, de idade de trinta e hum annos, que vive interessado no Engenho de Assucar de sua Mai.