Bexiga afilhado do mesmo Diogo, estes o chamarão, e tratando de o seduzirem por meio de enganos, com effeito o conseguirão, e ficou o Reo de cobrar dos Parceiros de sua caza algum dinheiro, e tão bem ficarem seduzidos para o mesmo effeito; e ajuntou elle Reo dez patacas dos parceiros, e as foi entregar ao Diogo e nessa occazião vio a caixa que tinha o Diogo, em que tinha bastante dinheiro, e que lhe dicera o dito Diogo, que não pençase que aquille dinheiro era para elle Diogo, e que sim era para remetter a João Barbeiro, rezidente em São Paulo e que esteeste hé que havia de applicar o dinheiro em beneficio delles todos, e que este Diogo era sedutor de todos escravos do Termo, de maons dadas com o João Barbeiro da Cidade de São Paulo.
Disse mais que em sua casa se achava huma zagalha na mão de seu parceiro Jose, a qual foi dada por hum seu parceiro Francisco Monjolo, escravo do Sargento mor Antonio Francisco de Andrade, e que nos seus ajuntamentos, nocturnos, e occultos dos brancos se aprezentavão alguns escravos do Bom Jardim armados com espingardas, e que em todos os ajuntamentos, sempre o Diogo era o cabeça, e mais não disse. E desta fórma houverão elles Juiz, Promotor, e curador por feito oprezente interrogatorio.
Epara constar fis este Termo que assignarão. Eu Manoel Francisco Monteiro Escrivão de Pas o escrevi = Cunha = Joaquim Soares de Carvalho = João Maria de Couto =
PERGUNTAS AO PRETO DIOGO REBOLO ESCRAVO DE JOAQUIM JOSÉ DOS SANTOS
Aos quatorze de Fevereiro de mil oito centos trinta e dous nesta vilia de São Carlos em casas do Juiz de Paz José da Cunha Paes Leme, onde se achava o Promotor Joaquim Jose Soares de Carvalho e o curador ad litem João Maria de Couto para o effeito de ser interrogado o preto Diogo Rebollo, escravo de Joaquim Jose dos Santos que prezente se achava.
Eprocedendo elle Juiz, e mais officiais supra dito no interrogatorio não foi possivel obter depoimento algum concorde a verdade: negou, e tornou a negar, nomeando diferentes nomes de negros na Cidade de São Paulo, e dando-lhes diferentes coragens, negando sempre que nunca conheceo a João Barbeiro, apezar dos escravos perguntados, achando se tão bem prezentes, lhe dizerem na cara, que elle era o que mandava em todos, e de todos recebia dinheiros, emandava para João Barbeiro, como fosse o Marcelino, que de hurra vez levou dinheiro, e trouxe huma carta do dito João Barbeiro, e huma boceta de chifre: evendo elle dito Juiz, e mais officiaes, que o dito Reo demonstrava todos os indícios de maldade, para incubrir a verdade, mandarão que fosse o mesmo às grades da cadeia apanhar os assoites da Lei, e tornado conduzido a presença do mesmo Juiz e officiaes tornarão novamente a interrogar ao mesmo Reo o qual ainda posto em negociações imensas persuasoes que se fez pouco se lhe foi descubrindo a verdade e declarou, que conhecia a João Barbeiro, com elle tinha correspondencia, e fes remessa de dinheiros: vindo o dito Juiz, e officiaes no conhecimento, tanto pelo dito dos mais escravos, como pela confição malicioza do Reo, que este mesmo era cabeça dos escravos entrados no projecto de inssurreição de maons dadas com o dito João Barbeiro; tornarão a interrogar ao Reo Diogo, e logo descubrio, que tinha recebido a carta de João Barbeiro, mas negando sempre o que nella continha, e dizendo que a entregou a Pedrinho escravo do monjolinho, e mais não disse.
Do que para constar mandou elle Juiz de Paz fazer este Termo de perguntas, que assignou com os officiaes, Promotor, e curador Joaquim José Soares de Carvalho, e João Maria do Couto depois de lido por mim Manoel Francisco Monteiro Escrivão de Pas o escrevi = Cunha = Joaquim José Soares de Carvalho = João Maria de Couto =