Disse o Reo voluntariamente, em força de castigo algum, ou violencia, que he verdade, que hia entrar em hua revolução contra os Brancos, para bem de sua liberdade, assacinando aos ditos Brancos, e que para isso foi convidado por hum mosso branco de nome Jose Valentim de Mello, o qual lhe dizia que esta intenção tão bem se achava tramada em São Paulo de comum acordo com os escravos desta, sendo que o dito mosso branco dizia para elle Reo, que depois de conseguirem os seus intentos, havião entre os que fossem entrados repartir o dinheiro, e mais cabedaes que achassem, e que em virtude do convite deste mosso Mello, elle Reo convidasse ao preto Francisco, escravo de Suterio de tal, fazendo ver ao dito Francisco o mesmo que o dito Moço lhe fez ver, que os brancos estavão descuidados, e que já não havia mais ronda, emais não disse.
Do que para constar mandou elle Juis de Paz fazer este Termo de perguntas que assignou com o Promotor Joaquim Jose Soares de Carvalho, e o Curador João Maria de Couto depois de lido por mim Manoel Francisco Monteiro Escrivam de Pas o escrevi = Cunha = Joaquim Jose Soares de Carvalho = João Maria de Couto =
TERMO DE PERGUNTAS AO PRETO FLAVIO BIXIGA
ESCRAVO DE JOAQUIM JOSE DOS SANTOS
Aos dezesseis de Fevereiro de mil oito centos trinta edous, nesta villa de São Carlos, em casas de Juis de Pas Jose da Cunha Paes Leme ahi por elle, epelo Promotor, e curador Joaquim Jose Soares, e João Maria de Couto, procederão ao interrogatorio do preto escravo de Joaquim Jose dos Santos de nome Flavio, por alcunha Bixiga, o qual sendo, perguntado pelo trama projectado entre os escravos.
Disse que hé verdade que fazião varios ajuntamentos de noite escondidos dos brancos, bem como elle recebia o dinheiro dos outros, e entregava ao Diogo escravo de Joaquim dos Santos e tanto assim elle dito Diogo tem comunicação com João Barbeiro, que Marcelino se achava disputando com o Diogo, para que elle havia de negar que tenha correspondencia, com o dito João Barbeiro, quando os brancos já sabião de tudo, e que elle Reo recebeo do dito Diogo cinco patacas em recompença da guarda do dinheiro, e que o Marcelino tenha levado o dinheiro para a cidade a entregar a João Barbeiro, emais não disse.
Do que para constar fiz este termo que assignão Juiz, e officiais depois de lido por mim Manoel Francisco Monteiro Escrivam de Paz o escrevi = Cunha = Joaquim Jose Soares de Carvalho = João Maria de Couto =
PERGUNTAS AO ESCRAVO JOSE DE NASÇÃO
ESCRAVO DO FALECIDO CORONEL FRANCISCO IGNACIO
Elogo no mesmo dia, procedendo-se a perguntas ao escravo Jose de Nasção do falecido Coronel Francisco Ignacio do Sitio Rio das pedras.
Disse que da insurreição tentada no anno passado, foi elle Reo em hum ajuntamento de muitos negros convidados por João Barbeiro, e influido para que se levantassem, e matassem aos brancos para ficarem libertos, e que concorressem com dinheiro para elle João Barbeiro mandar fazer Zagalhas, e comprar polvra, e que elle Reo não deo dinheiro algum, e nem quiz entrar, e que o dito João Barbeiro influia a todos para fazerem a guerra contra os brancos como na sua terra fazem huns com os outros, e da prezente insurreição intentada, nada sabe, senão por ouvir dizer, emais não disse.