Diário e notas autobiográficas

Texto escolhido e anotações por Ana Flora e Inácio José Veríssimo

Este assento é feito na noite de 2 de Abril de 1842, estando de partida para o Rio de Janeiro, como Deputado à Assembleia Geral Legislativa do Império.

1846

16 — Fevereiro


Emigra a família Rebouças da Bahia.

Meu bom Pai combatia sozinho na Bahia os traficantes de escravos, os piratas classificados pela Lei de 7 de Novembro de 1831, e os fabricantes de moeda falsa, de cobre, vulgarmente denominada chanchan. Essa pitoresca denominação é onomatopaica; porque os moedeiros falsos fabricavam a moeda de cobre com taxos velhos, com forros de navios, em laminadores e máquinas de cunhar muito imperfeitas. Disto provinha que as moedas jamais eram planas mas sim côncavas e convexas, produzindo o som chanchan quando eram manuseadas.

O partido aristocrático da Bahia era todo escravocrata e moedeiro falso... Os caudilhos mais importantes eram, então, João Mauricio Wanderley, depois barão de Cotegipe, e Francisco Gonçalves Martins, que morreu barão de São Lourenço e Senador pela província da Bahia.

O partido revolucionário, republicano, federalista e separatista, odiava Antonio Pereira Rebouças, pela sua dedicação à unidade do Império, efetivamente comprovada, em 1837 e 1838 pela sua enérgica reação contra a república do assassino Sabino...

Conservadores e revolucionários mancomunaram-se para fraudar as eleições, e eliminar os votos de Antonio Rebouças... Na última eleição pela Bahia, meu bom Pai teve mais votos do que nunca; mas os politicantes insuflaram por tal modo a votação, que o colocaram entre os suplentes.

Seguimos agora a Cronologia Biográfica.

22 — Fevereiro

Chegamos da Bahia no paquete nacional "S. Salvador": meu Pai me ensinara em casa as primeiras letras e ao meu irmão Antonio. Moramos à Rua do Matacavallo nº 64 (sobrado de cinco janelas de grades de ferro, pertencente à família do grande Eusebio); atualmente (1881) é Rua do Riachuelo n° 72 e está subdividido em duas ou três habitações.

1847-1848

Durante estes anos estudei português, caligrafia e primeiras operações no colégio de Camilo Tertuliano Valdetaro, então Provedor da Casa da Moeda, no Campo de Santa Ana, em casa, onde esteve até Agosto de 1869 a Secretaria dos Estrangeiros.

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