Diário e notas autobiográficas

Texto escolhido e anotações por Ana Flora e Inácio José Veríssimo

17 — Julho

O "Mohican" saiu às nove e um quarto antes de ter findado o prazo dado de 24 horas e sem receber mantimento algum.

Às 11 horas da manhã tinham os carpinteiros tirado os cimbres da primeira sessão da abóbada do paiol... Às seis e meia oferecia o Comandante, que assistiu ao fim da operação, aos mestres pedreiro e carpinteiro e aos mais trabalhadores um copo de cerveja.

Com essa pequena festa de trabalho festejei o sétimo aniversário do meu querido irmão José, ao qual Deus concederá seja muito melhor engenheiro do que eu.

19 — Julho

Acompanhei o Hoonholtz ao embarque; fui depois ao Presidente, de quem obtive sustar a ordem de dormirem no xadrez os trabalhadores enviados para a obra, correcionalmente pela Polícia. Parti às 11h da noite em uma embarcação dum Capitão francês com quem travei conhecimento no Hotel. Cheguei às quatro da manhã.

23 — Julho

Às quatro horas da tarde de hoje teve lugar o primeiro acidente depois que dirijo esses trabalhos. O broqueiro Manuel Ferreira, filho do meu ferreiro, tendo só feito até estas horas um palmo e meio de broca e tendo que apresentar às seis horas três palmos pelo menos ao apontador, lembrou-se de para abreviar o trabalho, descarregar com sua broca de aço, uma mecha que havia falhado e contra os meus constantes avisos e os conselhos na ocasião de seus camaradas, pôs-se a fazê-lo, e estava já a meio da operação quando a mina partiu sem arrebentar a pedra, não lhe resultando senão ferir-lhe a mão e enfumaçar-lhe a cara a pólvora. Pesada lição, que o fará de agora em diante trabalhar mais e atender melhor aos conselhos.

Além de todas as precauções, as minas são carregadas e atiradas por um preto, Antonio, antigo broqueiro que por muito tempo trabalhou na Casa de Correção do Rio de Janeiro.

O acidente do Manuel Ferreira foi só devido à sua imprudência e ao desejo de ocultar o pouco trabalho que tinha feito durante o dia. Foi bem triste a impressão que tive ao ver esse pobre rapaz e a mão escorrendo sangue, gritando: — Meu Pai — Sr. Tenente, venha me curar. — Fiz-lhe a vontade lavando-lhe a mão em água de arnica e envolvendo-a depois em um pano molhado da mesma substância.

25 — Julho

Não houve trabalho por causa da chuva; parti para a Cidade às nove e meia e cheguei às três da tarde com vento Sul. Travei conhecimento com o Visconde de Barbacena, que pareceu-me boa pessoa.

Diário e notas autobiográficas - Página 20 - Thumb Visualização
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