enganadora, como todas as miragens a que o deserto já me habituara!
— A Civilização...! Olhe! ali, aquelas pedras — e o beduíno apontou as ruínas de um templo romano — que representam?
— Uma das muitas civilizações que temos visto surgir, florescer, dominar e extinguir-se. Aqui, desconhece-se o capitalismo e a miséria, a coação e os artifícios e os tóxicos que são, afinal, o produto da vossa apregoada superioridade.
O beduíno concentrou-se, por um momento. Lançou um olhar curioso e enigmático ao fulgurante e morno lençol de areia — sem outro limite que a faixa rubra do infinito — e, cortando a luz num gesto fulminante, como a traçar um gilvaz no rosto de inevitável adversário, prosseguiu, na exaltação narcisista:
— Vivemos há milênios incontáveis, assim. Ar livre. Independência. Vida que os senhores desdenham e supõem rude, mas que é — não duvide! encantadora.
Estão convencidos que a agricultura, como todas as variedades do comércio e dos ofícios, está abaixo de sua dignidade.
Desdenham dos habitantes das cidades, aos quais consideram como escravos da civilização e dos vícios. Para eles, nada é mais desejável do que a liberdade em que vivem, como nômades. Ligar-se à terra, como trabalhador da terra, é ligar-se ao mandonismo de um chefe, às ordens de um patrão. Nenhum conquistador