um notável espetáculo, desmobilização que viria desequilibrar completamente o estado econômico das populações da república vizinha.
O Oeste brasileiro devia surgir aos olhos dessas populações depauperadas, como uma promissora região, capaz de traçar novos rumos à tragédia de uma coletividade perdida. A fronteira aberta era um convite tácito. Campeador por índole, o paraguaio ia tornar-se um elemento importante no regime pastoril do Oeste. E a migração, existente desde o século passado, devia aumentar de maneira notável como consequência dos fatos aqui apontados.
A expansão pastoril dos campos sul-rio-grandenses e do triângulo mineiro, esta originada pela descida do gado dos sertões nordestinos, através do vale do São Francisco, devia, na sua tremenda gula territorial, estender-se aos chapadões mato-grossenses. A decadência da borracha e o estado incipiente das outras culturas, conduziriam a um predomínio do regime pastoril, autônomo, único, imperativo.
Quando, após a guerra do Paraguai, Tomáz Laranjeira, nos trabalhos de determinação da nova linha divisória entre o nosso país e aquele que fora vencido, percorrendo o habitat natural da erva-mate, anteviu o futuro notável da sua cultura, estava propiciando, ainda, um novo surto do regime pastoril, marcado pela necessidade do transporte da erva em carretas, surgindo, por isso mesmo, dentro dos terrenos da própria concessão, logo obtida pelo representante brasileiro, grandes fazendas de criação, destinadas a fornecer a tração das carretas que levariam a erva às margens do rio Paraguai.
O regime pastoril do Oeste devia apoiar-se, portanto, em populações oriundas de três procedências diversas, todas elas formadas sob as características desse mesmo regime, — o mineiro, o gaúcho e o paraguaio. Populações inquietas que trariam aquela ânsia de autonomia, aquela agrestia de costumes, aquela tendência imutável e permanente de fuga à autoridade, que deviam marcar, inexoravelmente, as suas características fundamentais.