Oeste

Ensaio sobre a grande propriedade pastoril

A geografia do Oeste devia propiciar o desenvolvimento prodigioso do regime pastoril e agravar, cada vez mais, as dispersivas características apontadas.

Do degrau ciclópico das Sete Quedas, rumo a oeste, dividindo as águas do Iguatemi das do Igureí, parte a serra do Maracaju. Nas alturas de Ipejhun, faz uma brusca inflexão para o norte, passando a marcar o divortium aquarum entre o Paraná e o Paraguai. Caracteriza-se a dita serra por uma linha contínua de elevações que pouco abaixo de Santo Tomáz, infletindo para noroeste, toma o nome de serra do Amambaí. Nada mais confuso do que a nomenclatura altimétrica do Oeste. A cada lugar corresponde uma denominação nova para a mesma linha do terreno. É por isso que a serra do Amambaí, continuando no rumo norte, a partir de Limeira, dividindo a bacia do Paraná da do Paraguai, passa a receber nomes diversos, indo cortar a via férrea, adiante de Aquidauana, tomando o sentido do nordeste.

Na linha contínua que vai de Ipejhun até Aquidauana, o panorama diverge, num contraste profundo. Para leste, até a caixa do Paraná, desenvolvem-se os intermináveis chapadões onde o pastoreio encontra uma enorme extensão. Para oeste, logo após a queda brusca das escarpas da Bodoquena, amplia-se o panorama infinito do pantanal.

Detida no capricho das suas curvas, a torrente do Paraguai, quando começa a chover nas cabeceiras, represa as águas dos seus afluentes, com os leitos mais baixos do que o do rio mestre. Começam elas a invadir as campinas verdejantes. Ampliam-se, cada vez mais. Estendem-se como um lençol interminável. Cobrem uma vastíssima região. O Paraná completa essa obra prodigiosa detendo, na confluência, a corrente do outro formador do Prata. Daí por diante, não há caminhos nem vida. Um território imenso fica entregue ao domínio incontrastável das águas. Como nas secas nordestinas, não há um ritmo marcado, para essas enchentes enormes. Todos os anos, por três ou quatro meses, a ascensão dos rios invade tudo. As máximas não seguem regra. Nada apraza o acontecimento. Nada lhe marca os momentos de crise.

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