Oeste

Ensaio sobre a grande propriedade pastoril

de deixar, no espaço, os sinais fundos que só a permanência permite. O nomadismo sempre deixou pouco de si.

Essa emancipação à influência da terra, esse divórcio quase absoluto entre o meio e o homem, essa transmigração eterna que dilui toda a capacidade para a fixação de sinais exteriores, essa gula das distâncias, essa fascinação dos horizontes, — deviam conduzir a uma autonomia que propiciou o aparecimento de hiatos profundos entre os próprios componentes dos agrupamentos ligados ao pastoreio, dispersando-os, esmagando-os, aniquilando-os.

Como expressões humanas, esses elementos pouco representam porque pouco deixam de si. A contribuição que oferecem para o impulso ingênito da organização social é quase nula.

Não podendo afetar de algum modo a sociedade em que oscilam, como elementos de superfície, sempre instáveis, — esses grupos levaram a autonomia que os divorciou da terra ao ponto extremo de permanecerem rebeldes às influências dessa mesma sociedade em cujo meio vivem. Divorciados dela, permanecem os bárbaros, os inconformados, infensos à autoridade, eternos fugitivos, inquietos, erradios.

Tal quadro tem todos esses aspectos, bem fortes e bem frisantes e bem vivos, no Oeste, entregue ao desequilíbrio e ao primitivismo social consequente do predomínio único, absoluto, extenso, absorvente do regime pastoril.

***

Foi após a conclusão da guerra contra Lopes, quando se constituiu a comissão de limites que devia demarcar e fixar as linhas que separariam os territórios brasileiro e paraguaio, que se iniciou a existência econômica da região onde se estendem os ervais.

Tomáz Laranjeira, tesoureiro da aludida comissão de limites, devia ter despertada a atenção para os imensos ervais nativos. Regressando à corte, pleiteou o favor da concessão daquelas terras, para a exploração da erva-mate, o que lhe foi cedido em fins de 1882.

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